Autoralidades africanas nas telas
Produções do continente que se destacaram nos principais festivais europeus são exibidas até o dia 15 no CCBB
O Rio de Janeiro recebe pela primeira vez a Mostra de Cinemas Africanos, evento que se consolida como o único festival continuado no Brasil dedicado exclusivamente à exibição de filmes da nova safra autoral do continente. Até a próxima segunda-feira (15), o Centro Cultural Banco do Brasil apresenta uma seleção criteriosa de 15 longas e 5 curtas-metragens de 11 países africanos, muitos deles inéditos por aqui.
A curadoria, assinada por Ana Camila Esteves, idealizadora da Mostra, e pela ganense Jacqueline Nsiah, integrante do comitê de seleção da Berlinale, privilegia títulos que transitaram por importantes festivais internacionais como Cannes, Locarno, Tribeca e Berlim. As narrativas revelam a diversidade estética e temática do continente, abordando desde dramas políticos até fantasias urbanas, passando por críticas sociais que desafiam estereótipos sobre a produção cinematográfica africana.
O filme de abertura será "O Fardo da Nigéria" (When Nigeria Happens, 2025), dirigido por Ema Edosio, seguido de debate com a cineasta. O encerramento ficará por conta de "Demba" (Senegal, 2024), novo trabalho do premiado Mamadou Dia, que estará presente para conversar com o público. Entre os destaques internacionais figura "Sobre Quando Quebrei o Silêncio" (On Becoming a Guinea Fowl, Zâmbia/EUA, 2024), produção da A24 dirigida por Rungano Nyoni, cineasta conhecida no Brasil por "Eu Não Sou uma Bruxa".
A grande novidade desta edição é o "Naija Focus", recorte especial dedicado ao cinema nigeriano contemporâneo. "Naija" representa um apelido carinhoso que os nigerianos usam para se referir ao seu país, carregando orgulho, identidade e pertencimento. Além do filme de abertura, o foco apresenta três longas que exemplificam a vitalidade da produção local: "A Lenda da Rainha Errante de Lagos" (2024), fantasia urbana do Agbajowo Collective com estreia mundial no TIFF; "O Fim de Semana" (2024), de Daniel Oriahi, suspense que investiga as dinâmicas da classe média nigeriana exibido em Tribeca; e "A Estrada da Liberdade" (2024), de Afolabi Olalekan, denúncia da corrupção policial também presente no TIFF.
O programa nigeriano se completa com cinco curtas selecionados em parceria com o S16 Film Festival, evento de Lagos dedicado a novas vozes cinematográficas, e uma sessão especial de "Mami Wata" (2023), de C.J. Obasi. Esta última contará com a presença da diretora de fotografia brasileira Lílis Soares, premiada em Sundance pelo trabalho no filme. A seleção propõe um mergulho no imaginário nigeriano contemporâneo, misturando crítica social e liberdade estética em narrativas que transcendem os clichês sobre o continente.
A programação educativa inclui um minicurso ministrado por Ana Camila Esteves sobre o cinema nigeriano, oferecendo imersão crítica em Nollywood, uma das maiores indústrias cinematográficas mundiais. A atividade aborda contexto histórico, estratégias de mercado, narrativas populares e a crescente presença da produção nigeriana em plataformas de streaming globais.
SERVIÇO
MOSTRA DE CINEMAS AFRICANOS 2025
Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66, Centro)
10 a 15/9
Entrada gratuita, com ingressos disponíveis na bilheteria a partir das 9h do dia da sessão ou em www.bb.com.br/cultura
Programação completa: mostradecinemasafricanos.com
