‘Ainda Estou Aqui’ é eleito ‘O Filme do Ano’ pela Fipresci
A láurea criada pela crítica internacional coroa expressões artísticas pautadas pela ousadia, o que eleva o cacife de cineastas responsáveis por essas narrativas.
Fundada em 1925 e composta por jornalistas de quase 60 países, a Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci) elegeu “Ainda Estou Aqui”, que rendeu o Oscar ao carioca Walter Salles, para o posto de “Filme Do Ano”, ao conceder à produção seu Grand Prix anual. A láurea nasceu em 1999 e, desde então, coroa expressões artísticas pautadas pela ousadia, o que eleva o cacife de cineastas responsáveis por essas narrativas.
Paul Thomas Anderson, dos EUA, foi o primeiro a vencer, com “Magnólia”. Depois vieram Jafar Panahi, Jean-Luc Godard, Maren Ade, Pedro Almodóvar, Alfonso Cuarón, Ryusuke Hamaguchi, Aki Kaurismäki, Terrence Malick, Roman Polanski, Kim Ki-Duk, George Miller, Abdellatif Kechiche, Yorgos Lanthimos, Chloé Zhao e Nuri Bilge Ceylan. O Brasil e toda a América do Sul debutam (só) agora nesse Panteão de premiados. A entrega da honraria a Waltinho (apelido do diretor brasileiro) será na Espanha, no dia 19 de setembro, durante a cerimônia de abertura do Festival de San Sebastián, antes da projeção de “27 Noches”, do uruguaio Daniel Hendler.
Localizada no norte da Espanha, numa área estimada em 61 km2, banhada pelas águas do Golfo da Biscaia, a cidade de San Sebastián, fundada em 1180 d.C., inaugurou em 1953 um dos festivais de maior prestígio do mundo, capaz de atrair cineastas do mais alto calibre criativo. É por isso que, para a Fipresci, ele é estratégico, situando-se em último lugar no calendário dos eventos competitivos do Velho Mundo que mais reverberação têm pelo planisfério cinéfilo, precedido por Roterdã, Berlinale, Cannes, Locarno e Veneza. O evento basco completou sete décadas conseguindo se renovar, sintonizando-se com as pautas mais urgentes da atualidade. Sua programação se insere num contexto histórico de respeito, uma vez que o evento fez fama com sua habilidade de revelar correntes estéticas. Desde a década de 1950, sua seleção consagra expressões autorais com a láurea chamada Concha de Ouro, batizada em referência ao símbolo da região. Sua geografia, vista do alto tem formato da carapaça que projete os moluscos. Esse troféu já coroou muitas grifes da boa direção, como o italiano Dino Risi, os franceses Eric Rohmer e Claude Chabrol, a venezuelana Mariana Rondón, o mexicano Arturo Ripstein, o poderoso chefão estadunidense Francis Ford Coppola, o sino-americano de Hong Kong Wayne Wang, o escocês Peter Mullan, a georgiana Dea Kulumbegashvili, a catalã Jaione Camborda e o boliviano Jorge Sanjinés. Até Marlon Brando foi coroado lá, em sua única experiência como realizador, o faroeste “A Face Oculta” (1961). Para o Brasil, só houve uma Concha dourada, a de 2019, conquistada por “Pacificado”, dirigido pelo americano Paxton Winters no Morro dos Prazeres.
Salles projetou muitos longas lá, começando por “Terra Estrangeira”, codirigido por Daniela Thomas, que inaugurou sua fama internacional nas veredas da ficção, há 30 anos. No dia 18 de outubro, já com o Grand Prix Fipresci em mãos, o cineasta receberá o Luminary Award durante o evento Academy Museum Gala, na mesma Hollywood que lhe deu o Oscar. Seu “Ainda Estou Aqui” impressionou redes exibidoras em sua pátria ao vender 5,8 milhões de ingressos sempre em sessões finalizadas com aplausos e causou surpresa no exterior ao faturar US$ 36 milhões. A primeira vitória se deu no Festival de Veneza de 2024, ao receber a láurea de Melhor Roteiro. Sua protagonista, Fernanda Torres, vendeu o Globo de Ouro e voltou à terra das gôndolas, agora como integrante do júri pelo Leão de Ouro.
Ela encantou plateias com seu desempenho como a advogada e ativista Eunice Paiva (1929-2018), cujo empenho mais ardoroso em vida foi expor o rapto e a tortura de seu marido, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva (Selton Mello), por agentes do governo militar, no início dos anos 1970. O longa pode ser visto hoje no Globoplay.
