Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Festival do Rio: a França de Binoche se faz carioca

Juliette Binoche dirige o experimento 'In-I In Motion', que estreou em San Sebastián, há uma semana | Foto: Divulgação

A chegada de Juliette Binoche e sua estadia na cidade, neste fim de semana, já é mais do que suficiente para fazer deste Festival do Rio uma das edições de mais reverberação internacional de toda a história do evento, que nasceu em 1999 e chega aos 27 anos com 298 filmes em seu cardápio. "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, que virou um ímã de láureas para o Brasil, está no pacote, em que a França (país natal de sua produtora, Emilie Lesclaux) tem um lugar de honra. Uma seleção de 74 produções e coproduções recentes da pátria presidida por Emmannuel Macron vão desfilar pelo circuito de salas de projeção (25 telas ao todo, além do Pavilhão do RioMarket do Armazém da Utopia, do Museu do Amanhã e do Teatro Glaucio Gill) a serviço do evento. "In-I in Motion", experimento pautado pela dança que traz a assinatura de Binoche na direção, é um deles.

Essa iniciativa integra o Festival do Rio às ações da Temporada França-Brasil 2025, que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. A aproximação envolve debates e encontros de negócios com a presença de profissionais franceses e brasileiros, num intercâmbio de saberes. A Carta Branca ao Forum des Images (espaço de exibição e reflexão em Paris) traz uma retrospectiva de produções exclusivamente dirigidas por mulheres, entre elas Sophie Letourneur, que chega ao país para apresentar seu mais recente longa de ficção, "A Aventura" ("L'Aventura"), além de dois anteriores, "Voyages en Italie" e "Énorme". Blandine Lenoir traz "Zouzou" e "Annie Colère". Romane Bohringer virá com os longas "Amor Fora de Foco" ("L'amour Flou") e seu mais recente filme, apresentado no Festival de Cannes deste ano, "Diga a Ela que A Amo" ("Dites-lui que je l'aime"). As três cineastas participarão de debates com o público após as exibições. A programação traz ainda "Saint Omer" (2022) de Alice Diop; "L'amour et les Forêts" (2023) de Valérie Donzelli.

Em contrapartida, o Forum des Images recebeu, na última semana de setembro, na França, uma mostra de documentários de diretoras brasileiras com a presença de três delas, que também participaram de encontros com o público local. Em Paris, o Festival do Rio e a Cinemateca Brasileira apresentaram obras de Sandra Kogut ("Passaporte Húngaro", "No Céu da Pátria Nesse Instante"), Juliana Vicente ("Diálogos com Ruth de Souza", "Racionais MCs - Das Ruas de São Paulo para o Mundo") e Denise Zmekhol ("Pele de Vidro", "Crianças da Amazônia").

Em colaboração com o Centre National du Cinéma et de l'Image Animée (CNC), o Festival do Rio apresenta encontros voltados à preservação audiovisual, reunindo especialistas do Brasil e da França. A programação inclui a exibição especial de "Rien que les heures" (1926), média-metragem francês dirigido pelo cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti e recentemente restaurado pelo CNC, bem como "Mulher de Verdade" (1954), do mesmo diretor. Ambas as sessões serão seguidas de debates.

Entre os filmes franceses imperdíveis da programação deste ano destacam-se "A Cerca" ("Cri Des Gardes"), de Claire Denis, e "Couture", de Alice Winocour, com Angelina Jolie em estado de graça. Os dois concorreram à Concha de Ouro de San Sebastián, onde "In-I in Motion" estreou.