Por: Affonso Nunes

Nelson Motta, um sujeito de sorte

Lirio Ferreira, Nelson Motta, Glaucia Camargos e Walter Macedo no dia da assinatura do contrato que permite a adaptação da autobiografia do jornalista | Foto: Divulgação

A incrível trajetória de Nelson Motta, renomado jornalista, escritor, compositor e produtor musical, será adaptada para o cinema. O filme, baseado em sua autobiografia "De Cu pra Lua", lançada em 2020, contará com a direção de Lírio Ferreira, produção de Gláucia Camargos e roteiro de Walter Macedo Filho. Ainda não há previsão para o início das filmagens.

Nascido em São Paulo em 1944, Nelsinho iniciou sua carreira como jornalista e crítico musical aos 20 anos. Suas resenhas, publicadas em veículos como Última Hora e O Globo, estabeleceram um novo padrão no jornalismo cultural brasileiro, influenciando gerações de profissionais da área.

Em paralelo à produção jornalística, Nelson viva a efervescência da cena musical brasileira de sua geração. Em 1966, venceu o I Festival Internacional da Canção com "Saveiros", em parceria com Dori Caymmi. Ao longo de sua trajetória, compôs mais de 300 músicas, incluindo sucessos como "Dancin' Days", gravado pelas Frenéticas, e "Como uma Onda", esta última em colaboração com Lulu Santos.

Além disso, sua atuação como crítico e jornalista o levou a se aventurar como produtor musical, trabalhando com artistas como Elis Regina e Marisa Monte. Nelson ajudou Elis a dar uma repaginada no seu repertório e seu álbum "Em Pleno Verão" (1970) trazia canções da dupla Roberto e Erasmo Carlos, dos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil e de Tim Maia, que começava a despontar. No disco seguinte, "Ela" (1971) tem mais Caetano, mais Erasmo e Roberto, o compositor iniciante Ivan Lins e até Beatles. Essa modernização jamais tirou a essência da Elis Regina, só ajudou ela a abrir seus horizontes artísticos. O trabalho dos dois acabou interrompido bruscamente depois que os dois tiveram um romance. Casada com Ronaldo Bôscoli, Elis optou em manter o casamento e afastou-se de seu produtor, como Nelson conta tanto em "De Cu Pra Lua" como em seu livro "Noites Tropicais - Solos, Improvisos e Memórias Musicais". Nelson escreveu também "Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia".

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Nelson e Elis: o jornalista produziu dois álbuns que sacudiram a carreira da cantora | Foto: Reprodução

Ainda sem título e elenco definidos, a cinebiografia promete retratar a intensidade de uma vida marcada pela criatividade e constante movimento. Lírio Ferreira - diretor pernambucano conhecido por obras como "Baile Perfumado" (1996), premiado no Festival de Brasília; e "Árido Movie" (2005), exibido no Festival de Veneza - expressou entusiasmo pelo projeto. "Quando eu era menino, vi Nelson Motta na televisão e queria ser como ele. Um sujeito dócil, inteligente, carismático, bonito e que sabia de tudo. Daí sinto uma honra tamanha poder olhar e se aproximar dessa figura que embala tantas pessoas. A partir desse instante, começo a me achar também um sujeito de sorte". brinca.

A produtora Gláucia Camargos, que iniciou sua carreira com "Jorge, um Brasileiro" (1988), sucesso de público e crítica, também celebrou a parceria, ressaltando a alegria de produzir mais um projeto que destaca a cultura brasileira. "Admiro o Nelson e está sendo um prazer essa convivência. Agradeço ao Walter Macedo essa brilhante ideia e estou feliz em estender a minha parceria com o Lírio". Gláucia e Lírio estão juntos na adaptação para o cinema da obra de Ferreira Gullar, "Rabo de Foguete", prevista para ser filmada em 2026 no Brasil e na Rússia.

Diretor, dramaturgo e jornalista, o O roteirista Walter Macedo Filho integrou o Círculo de Dramaturgia do Centro de Pesquisa Teatral, coordenado por Antunes Filho, e a primeira turma do Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council, em São Paulo. No teatro, escreveu e dirigiu montagens como "Encontro" (2017) e "A Mulher Descoberta" (2022).

"De Cu pra Lua" é uma expressão popular que remete à sorte, tema central da autobiografia de Nelson Motta. No livro, ele revisita memórias pessoais e profissionais, narrando episódios de sua juventude, memórias afetivas e momentos que atravessam diferentes épocas da música, do jornalismo, da televisão, da literatura e da indústria do entretenimento.

"Que as pessoas se divirtam acompanhando minha trajetória movida a sorte - e esforço - e seus mistérios. A vida me deu muito e me alegro em compartilhar". Ele também destacou o que mais gostaria de ver retratado na tela: "Queria ver retratado o meu amor pela aventura e o risco e com o que me ensinou mesmo quando deu errado, e fui aprendendo com o humor".