Por: Pedro Sobreiro

Para sentir o gostinho do Festival do Rio

Leonardo DiCaprio vive ex-revolucionário que tem a filha sequestrada, precisando embarcar em uma nova jornada contra agentes de um Estado totalitário | Foto: Divulgação/ Warner

O Festival do Rio 2025 está chegando! E para dar um gostinho do que vem por aí, a organização do evento fechou uma parceria com a Warner para realizar a primeira exibição de "Uma Batalha Após a Outra" no Brasil no Cine Odeon, no Centro, o coração do festival a partir da próxima semana.

"Um filme do Paul Thomas Anderson é sempre um acontecimento. Eu lembro quando a Warner anunciou a estreia desse filme para 25 de setembro. Eu chorei para colocarmos ele no Festival, mas não deu. Então, conseguimos fazer essa pré-estreia para ensinar ao público do festival o caminho para o Odeon, para já ir acostumando com as sessões do Festival do Rio, que acontece do dia 2 ao dia 12 de outubro, com mais 25 salas. Será uma alegria para nós ver vocês reagindo a filmes como esse e muitos outros", comentou Ilda Santiago, co-fundadora e diretora de programação do Festival do Rio.

E o filme é isso tudo mesmo. A trama acompanha Bob (Leonardo DiCaprio) e Perfidia (Teyana Taylor), uma dupla que se conhece em meio a atentados contra um Estado de viés totalitário. Eles organizam e executam solturas de pessoas presas pela imigração americana na fronteira com o México. Conforme os planos avançam, eles se apaixonam e têm um bebê.

Diante de delações e os perigos que essa nova vida trazem, a revolução se dissipa, com cada um seguindo seu caminho rumo ao anonimato. Porém, os anos se passam e Bob vive como um pai solteiro, que tenta criar sua filha adolescente. O problema é que um antigo inimigo dos tempos de revolução aparece para resolver uma "ponta solta" que deixou em sua jornada à favor do Estado, e não vai parar enquanto não sequestrar a menina e acabar com Bob.

O problema é que Bob se perdeu nas drogas nesses anos e não lembra mais como pedir ajuda para a revolução. Mas a revolução chega até ele, fazendo com que esse atrapalhado herói de guerra embarque em uma jornada cheia de ação, adrenalina e trapalhadas.

É interessante reparar como um filme que aborda temas tão complexos como o autoritarismo no governo, a imigração e o papel das mulheres na sociedade consiga ser engraçado. Sim, por menos que pareça, o filme é uma comédia espetacular. Ele mescla o bom humor com a ação eletrizante, criando uma experiência fascinante de ser vivida numa sala de cinema.

A direção de Paul Thomas Anderson flerta com elementos dos antigos faroestes, mas com a roupagem dos grandes filmes de fuga dos anos 90, criando uma obra com um jeitão anacrônico bastante excêntrico, mas que funciona que é uma maravilha.

O auge é uma perseguição de carros em uma estrada isolada, cujas curvas e relevos são o principal fator de surpresa. Ele acompanha os quatro envolvidos na corrida, trazendo seus rostos para o foco e compondo a perseguição com as curvas da pista. É de tirar o fôlego!

Mas o grande destaque de "Uma Batalha Atrás a Outra" é mesmo uma trinca de atuações que transborda competência. O Bob de Leonardo DiCaprio é espetacular. O personagem parece ter saído diretamente de "Dois Caras Legais" (2016), mas com mais camadas de desenvolvimento e motivação. Apesar de buscar sentido na vida, revivendo os chamados "dias de glória", ele entra nessa furada exclusivamente pelo amor à filha.

Junto a ele, entra Benicio Del Toro como Sensei Sergio. Ele é o professor de artes marciais da menina, mas também é um agente oculto da revolução, que realiza a guarda da família esse tempo todo. Seu Sergio tinha tudo para dar errado, mas a forma como Del Toro o compõe, carregado de ironia e falta de sentido na vida, quase como um "psicopata do bem", faz dele uma inusitada e hilária adição para a trama.

Por fim, o personagem de Sean Penn, um dos vilões da trama, é completamente fora de série. Ele faz de tudo para recuperar seu prestígio, incluindo tirar vidas. É a síntese de tudo que há errado com o militarismo, mas conduzido de um jeito que prende muito a atenção. O público quer saber até onde esse mimado sem noção vai chegar para conseguir o que quer. É como se pegassem o Kiko, de "Chaves", e dessem um arsenal nas mãos dele.

O trabalho desse trio é magnético. Piscar não é uma opção quando eles aparecem em cena, tamanha a grandiosidade dessas atuações, principalmente a de Sean Penn, que cria um dos personagens mais sensacionais de sua gloriosa carreira.

Se esse filme foi o "esquenta" do Festival do Rio, o público pode esperar uma programação sensacional, porque já começaram com "Uma Batalha Após a Outra", que é o melhor filme de 2025 até o momento.

Frenético, "Uma Batalha Após a Outra" já nasce clássico ao criar uma experiência sensorial que precisa ser vivida numa sala de cinema. É uma obra-prima!