Nascido em Praga, no fim do século XIX, em uma família judia tcheca de classe média (que falava alemão e iídiche), Franz Kafka (1883-1924) foi cristalizado no imaginário da literatura europeia por palavras que traduzem a exasperação diante da burocracia e da angústia de não pertencimento. Apesar disso, turistas de todo mundo visitam os espaços por onde ele circulou como se fosse um espetáculo, num paradoxo que inspira um dos momentos mais críticos de "Franz", o novo longa-metragem da artesã autoral polonesa Agnieszka Holland. Ela hoje dispara na competição pela Concha de Ouro do Festival de San Sebastián como favorita ao Prêmio de Direção.
"Quando adolescente, eu era mais intelectualizada do que sou hoje e li Kafka quando tinha uns 14, mas eu percebo que ele vem e volta, mostrando-se mais atual do que nunca em meio às trevas que se espalham pelo mundo hoje", afirma Agnieszka ao Correio da Manhã.
Aos 76 anos, a diretora de cults como "Eclipse de uma Paixão" (rodado em 1995, com o jovem Leonardo DiCaprio no papel do poeta Rimbaud) renova seu prestígio ao abordar Kafka num mergulho não nos feitos, mas na cabeça do autor de "O Castelo" e de
"A Metamorfose". Criado como um caleidoscópico, o longa-metragem que tem tudo para leva-la ao Oscar - como representante da Polônia - conta com o talento do ator Idan Weiss no papel central.
"Não queria alguém que se parecesse com Kafka, mas, sim, alguém que captasse seu espírito", diz Agnieszka, aclamada por plateias bascas.