Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

A estrela de Carla Ribas sobe...e alto

Aposte em Carla Ribas e 'Dolores' para o futuro do cinema brasileiro na mostra Horizontes Latinos de San Sebastián | Foto: Joana Luz/Divulgação

Tomada pela emoção na saída da projeção de "Dolores", Carla Ribas contou ao Correio da Manhã que recebeu do amigo Chico Teixeira (1958-2019), pouco antes de ele serenar, uma versão de base do roteiro que contagiou os Horizontes Latinos do Festival de San Sebastián no sábado passado.

Foi em parceria com esse cineasta, em 2007, que a atriz carioca, antes só conhecida por trabalhos no teatro, teve a chance de protagonizar "A Casa de Alice", que lhe rendeu o Troféu Redentor na Première Brasil, uma série de convites (para a TV e os palcos) e elogios da crítica, diante do que muitas resenhas definiram como a "atuação de uma vida".

Há gente falando isso dela uma vez mais no evento espanhol, onde a produção dirigida por Maria Clara Escobar e Marcelo Gomes pode render ao país um prêmio dedicado a vozes autorais da Pangeia de colonização ibérica.

"Revisitar o Chico foi muito importante desde o começo. Li umas duas ou três versões que ele me mandou. Depois que ele não teve como filmar, o Marcelo e a Maria Clara trouxeram um tratamento novo com detalhes que homenageiam o Chico. Ele está em San Sebastián com a gente", disse a atriz ao Correio da Manhã em Donostia, nome da cidade em basco e euskera, a língua local. "Uma das vantagens de ser atriz é a gente se colocar nas circunstâncias das nossas personagens", refletiu a estrela em resposta à plateia do Kursaal.

Dez anos atrás, seu querido Chico venceu o Kikito de Melhor Filme do Festival de Gramado com "Ausência", no qual trabalhou com Gilda Nomacce, diva do cinema indie que, como Ribas, é um reator nuclear de inquietação dramática. As duas trabalham agora sob a batuta de Maria Clara e Gomes, que também dirigiu Carla na minissérie "Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente", hoje na HBO MAX. No filme dessa dupla de cineastas, San Sebastián riu, ficou tenso e chorou peripécias da vendedora de roupas íntimas Dolores, que chega aos 65 anos assolada pelo vício em jogo. Não por acaso, seu projeto para o futuro é abrir um cassino, apoiada em um sonho premonitório de êxito. As visões que tem não a livraram de perder muita coisa, entre elas o apreço de sua única filha, a também comerciante de lingerie Deborah (Naruna Costa, um vulcão na tela). Ela suspeita de que seu pai morreu de desgosto com a dependência de Dolores, sua companheira, em apostas. Já Duda é mais compreensiva com a avó. Trabalha numa loja de armas, atira bem à beça e sonha em se mudar para os EUA, a fim de poder aproveitar a vida com mais conforto.

A fotografia de Joana Luz e a atuação estonteante de Roney Vilella como Bigode, o quase namorado de Dolores são trunfos a mais do longa. Um dia antes de sua exibição em concurso, Ribas passou pela sala El Príncipe de Donostia em "Ainda Estou Aqui", integrando a trupe de Walter Salles no drama ganhador do Oscar, em Hollywood, e do Grand Prix Fipresci, entregue pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica na sexta.