Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Fernanda Torres,60!

Ganhadora do Globo de Ouro, Fernanda Torres tem sua filmografia revisitada nesta segunda-feira | Foto: Golden Globe

 

Pela primeira vez em sua história de dedicação ao audiovisual, a Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica vai atribuir seu Grand Prix Fipresci de Melhor Filme do Ano a um longa-metragem brasileiro... nosso único ganhador de Oscar... "Ainda Estou Aqui", cuja estrela, Fernanda Torres, aniversaria nesta segunda-feira. A intérprete da ativista e advogada Eunice Paiva (1929-2018) chega esta semana aos 60 anos.

Nesta sexta-feira (19) seu desempenho no oscarizado drama de Walter Salles será projetado no Festival de San Sebastián, no norte da Espanha, na cerimônia em que a instituição de jornalistas e críticos, fundada em 1925, vai conferir sua láurea anual ao diretor carioca, num feito histórico para o país. Antes disso, por aqui, uma festa em homenagem à atriz mobiliza TV e streaming.

Ganhadora do Globo de Ouro por "Ainda Estou aqui", Fernandinha (como é apelidada) ganha, a partir desta noite, uma maratona com onze longas marcantes de seus mais de 40 anos de carreira no Canal Brasil. O pacotão começa às 20h, com "Terra Estrangeira" (1995), e termina nesta terça, às 12h40, com a projeção de "Inocência" (1983), de Walter Lima Jr. Serão exibidas joias raras como "O Primeiro Dia" (1998), que rendeu a Walter e Daniela Thomas uma indicação ao Leopardo de Ouro de Locarno. O blockbuster "Os Normais: O Filme" (2003), de José Alvarenga Jr., também será exibido, resgatando a figura de Vani, personagem que Torres celebrizou na TV, ao lado de Luiz Fernando Guimarães.

Integrante do júri do recém-encerrado Festival de Veneza, responsável por atribuir o Leão de Ouro a Jim Jarmusch por "Father Mother Sister Brother", Fernanda concorreu ao Oscar neste 2025 cheio de glórias para seu nome no exterior. No Lido, no último dia 6, ao entregar o troféu Copa Volpi de Melhor Ator ao napolitano Toni Servillo, por uma atuação considerada magistral em La Grazia, a brasileira foi bajulada pelo veterano astro italiano:

"Não imaginava ser premiado por uma atriz que me encantou este ano, com um grande filme", disse Servillo, em referência a "Ainda Estou Aqui", que pode ser visto no Globoplay, ao mesmo tempo em que outra plataforma digital, a MUBI, comemora seu legado de excelência.

Prestes a rodar "Os Corretores", do diretor Andrucha Waddington (seu companheiro de vida e de muitos projetos), Fernanda aparece no cardápio do www.mubi.com numa seção batizada de "A Vida Presta", com quatro longas. O mais cultuado da seleção é "Eu Sei Que Vou Te Amar", de Arnaldo Jabor (1940-2022), que rendeu a ela o prêmio de Melhor Interpretação Feminina em Cannes, em 1986.

Na trama, um casal que se conheceu na juventude (Fernanda e Thales Pan Chacon) se separa após dois anos. Três meses depois, decidem se reencontrar e, ao longo de uma longa noite, mergulham em uma conversa profunda sobre amar. Por meio de risos, lágrimas e lembranças, eles revisitam os momentos mais marcantes de sua história. A delicada fotografia de Lauro Escoral dá requinte a esse parlatório.

"Gêmeas", que rendeu à atriz o troféu Candango no Festival de Brasília de 1999, foi incluído em "A Vida Presta", mas será relançado em tela grande em outubro, durante o Festival do Rio. Ele é parte de uma fase de filmes nas raias do noir feitos por Fernanda na segunda metade dos anos 1990, período em que estrelou ainda "Traição" (1990), um thriller em episódios já no ar na MUBI. O quarto título convocado por esse streaming, "Saneamento Básico", o Filme, de Jorge Furtado, foi lançado em 2007, mas reestreou este ano. Nele, Fernanda é a herdeira de uma madeireira no Rio Grande do Sul que decide fazer um vídeo, em família, para conseguir recursos a fim de despoluir sua região.

Logo que foi indicada para o Oscar, Fernanda conversou com o Correio da Manhã sobre a força simbólica da longa de Walter para a população brasileira e sua arte. Além de ganhar o Oscar, a produção vendeu 5,8 milhões de ingressos em sua pátria. Sua narrativa revive a peleja de Eunice atrás da verdade sobre o sumiço do marido, o engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello) nos porões da ditadura:

"Fui só alegria com o roteiro porque fiquei muito impressionada com a capacidade do(s autores) Murilo (Hauser) e Heitor (Lorega) para escolher, naquele livro imenso do Marcelo, um corte que pula 26 anos e depois pula mais dez. É muito difícil. O nosso trabalho foi ajustar a Eunice na passagem da primeira fase para a segunda, para que a segunda tivesse uma razão de existir", disse Fernanda ao Correio, em janeiro. "Acho que o trecho mais difícil de acertar - que foi para lá, foi para cá, teve mil retornos - foi a segunda parte, ali em São Paulo, onde ela recebe o atestado de óbito do Rubens".