Galardoado com uma menção honrosa no 53º Festival de Gramado, "Sonhar Com Leões" foi idealizado num intercâmbio de saberes intercontinental, via Atlântico, e pode (potencialmente) assegurar para Portugal uma indicação ao Oscar 2026. A produção, que chega este fim de semana às telas do Brasil, integrou a lista de cinco filmes lusos pré-selecionados para que um seja escolhido a fim de que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tenha uma representatividade lusitana. A seu lado, na disputa, estão "Banzo", com realização de Margarida Cardoso; "Hanami", de Denise Fernandes; "Os Papéis do Inglês", realizado por Sérgio Graciano; e "Sobreviventes", de José Barahona (que morreu em novembro). Aplaudido com fervor em terras gramadenses, a comédia ácida com Denise Fraga que hoje avança por telas do Rio foi antes projetada na Estônia, no Tallin Black Nights Film Festival. O Brasil entra em sua equação produtiva não apenas com o talento (em estado de graça de sua estrela, mas na participação (fina) do ator Roberto Bomtempo e do diretor de fotografia Glauco Firpo.
"Sonhar Com Leões" é dirigido por Paolo Marinou-Blanco, que nasceu em 1982, em Nova York, filho de mãe grega e de pai português. Conhecido antes pelo convulsivo "Goodnight Irene", de 2008, ele regressa à telona mais cítrico e fez Gramado rir, numa catarse coletiva, com diálogos propositadamente expositivos sobre formas de suicídio. Não há desrespeito à angústia alheia em sua abordagem. Há um flagrante do quão patético é o desamparo nas raias da finitude anunciada. Gilda, sua protagonista, padece de uma doença terminal que operação nenhuma cura. Num exercício de "quebra da quarta parede" (procedimento no qual se fala para a câmera, endereçando a conversa direta e frontalmente à plateia), a enferma faz troça de seu próprio infortúnio, desabafa sobre a aspereza da condição humana sob o risco da perda e compartilha detalhes de suas três tentativas de se matar. Cada desabafo escancara dilemas aos quais a sociedade ocidental agrilhoou-se por interditos morais e conflitos religiosos.
Sua projeção em tela gramadense foi acolhida com gargalhadas e afetuosidade da crítica, que contextualiza o filme numa genealogia de títulos que se depositaram em grandes festivais, após a morte assistida de Jean-Luc Godard, em 2022. Entre eles estão "O Quarto Ao Lado", de Pedro Almodóvar, e "Uma Bela Vida", de Costa-Gavras, que lota salas no Rio.