Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / FILME / INVOVAÇÃO DO MAL 4: O ÚLTIMO RITUAL: Annabelle vai pro quinto dos Infernos

O casal Warren espreita o mal em 'Invocação do Mal 4: O Último Ritual' | Foto: Divulgação

Com fortes chances de conquistar o Leão de Ouro do Festival de Veneza, neste sábado, à força do "Frankenstein" de Guillermo Del Toro, o terror vive um momento de apogeu não apenas comercial, como também artístico, em 2025, depois que Ryan Coogler devassou o racismo com vampiros em "Pecadores" (faturando US$ 366 milhões) e após a bruxa de "A Hora do Mal" se refestelar nas bilheterias, arrecadando US$ 237 milhões. Teve horror autoral no Festival de Locarno ("Drácula", do romeno Radu Jude) e em Cannes ("Animais Perigosos").

É nesse cenário que James Wan, artesão do gênero, nascido há 47 anos na Malásia, sob cidadania australiana, "baixa" no circuito, como produtor da quarta parte da franquia "The Conjuring". Iniciada em 2013, ela é encarada como uma máquina de lucrar. Traduzida aqui como "Invocação do Mal", essa cinessérie se baseia nos feitos reais do casal Warren, a sensitiva Lorraine Rita (1927-2019) e o demonologista Edward Miney (1926-2006), que investigaram a veracidade de casos paranormais, sendo alguns ligados a manifestações de diabos na Terra. Wan dirigiu os dois filmes iniciais.

O primeiro, lançado há 12 anos, custou US$ 20 milhões e faturou cerca de US$ 320 milhões. O segundo, de 2016, periga ser a maior obra-prima do filão horrorífico do século 21. Custou US$ 40 milhões e contabilizou US$ 322 milhões na venda de ingressos. Lucrou uma fortuna e lançou dois vilões que ganharam spin-offs rentáveis: a boneca encapetada Annabelle e o trem-ruim A Freira. Há uma parte três, lançada na pandemia, dirigida por Michael Chaves, sob os auspícios de Wan, feita com verba de US$ 39 milhões, cuja receita encosta em US$ 206 milhões. É Chaves quem pilota o "Invocação 4" e o faz com destreza.

O acerto de Wan - realizador que virou sensação ao lançar "Jogos Mortais", há 20 anos -, em sua imersão nas veredas demoníacas, foi não temer o jump-scare, recurso estilístico no qual o susto é um motor de catarse da plateia. Seu engendramento físico hoje é considerado demodê, mas Wan comprovou sua eficácia, além de ter contestado a máxima de que filmes de terror não têm heróis, mas, sim, sobreviventes. Lorraine e Ed, interpretados numa alquimia plena por Vera Farmiga e Patrick Wilson, são heroicos, usando a paranormalidade e a palavra de Deus como armas. Em "O Último Ritual", eles estão aposentados, às voltas com o futuro casamento da filha, Judy (Mia Tomlinson), que também tem mediunidade, com o ex-policial Tony (Ben Hardy, o destaque do elenco). A calmaria que desejam abraçar é interrompida depois de manifestações de espíritos zombeteiros (perigosíssimos), confinados num espelho, em uma casa. Esses espectros fazem parte de uma missão pregressa que os Warren não concluíram e voltam numa trama avessa a moralismos que faz a gente quicar na cadeira, numa edição sinuosa que se delicia com a atuação primorosa de Farmiga e Wilson.