Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Paulo Ernesto: 'Estar numa sala de cinema, vibrando junto com o público,é catártico'

Paulo Ernesto, apresentador e crítico de cinema | Foto: Rodrigo Fonseca

Desde os tempos em que Adolfo Cruz (1922-2010), jornalista famoso pelo slogan "Falem mal, mas falem do cinema nacional", agitava a Rádio Relógio, a Tupi e a Rádio Nacional com suas análises e dicas de filmes, o audiovisual do Brasil sempre arrumou um jeitinho de consagrar personalidades da imprensa cujo papel é sintonizar as plateias com as novas tendências da tela grande. Rubens Ewald Filho, que partiu em 2019, foi um titã desse ofício, que consagrou ainda talentos como os de Renata Boldrini, Anne Braune, Moisés Liporage, Simone Zuccolotto. Um dos expoentes desse Panteão de vozes que informam sobre invenções da arte cinematográfica, revisitando seu legado, é o mineiro Paulo Ernesto.

Ele ganhou notoriedade ao aparecer nos reclames publicitários de salas de projeção (em especial as do subúrbio do Rio) esmiuçando detalhes cruciais de longas que estão a caminho do circuito. Na Flix Media, virou uma referência do que se pode assistir de melhor no circuito e estendeu suas atividades para um site de referência, o AdoroCinema. Seu falar melífluo, calçado num cabedal analítico generoso, transformou suas inserções em público na maior diversão.

No papo a seguir, durante o Festival de Gramado, ele explicou ao Correio sua vocação e sua missão.

De onde que você vem nas Gerais? Qual foi o primeiro filme que você viu na sala de cinema? E qual é a sensação que você tem todas as vezes que você volta numa sala?

Paulo Ernesto - Eu sou de Patrocínio, na Zona da Mata, uma cidade que, quando eu nasci, não havia cinema. A sala que existia ficou fechada por um bom tempo e só reabriu quando tinha 10 anos. Eu assistia já a muito filme pela televisão quando eu pisei numa sala de cinema pela primeira vez, que foi para ver "Monstros S.A.". Foi muito marcante para mim, e eu fui com o meu irmão. Depois disso, eu nunca mais parei de ir ao cinema. Voltar para um cinema é retomar um pouco dessa sensação de grandiosidade da primeira vez. Estar numa sala de cinema, vibrando junto com o público, é catártico.

Como você define o trabalho de formação de plateia que faz no Flix Media?

A gente aparece antes dos filmes e eu acho que é um primeiro contato com o público para já prepará-lo, ali, para o que ele vai ver. É um meio de a plateia aprender um pouquinho mais sobre os próximos filmes ou refletir sobre coisas que eles já viram. É uma forma de levar o público a imergir nesse mundo de entretenimento, junto com os trailers e com as outras informações (reclames) que aparecem antes. É uma forma de dinamizar o conteúdo da tela, de tornar a ida ao cinema mais atrativa. Eu sempre fico muito feliz quando alguém fala que me assistiu em diversas cidades do Brasil. Daí, eu sempre pergunto que filme a pessoa foi ver e em qual cidade, porque é muito legal você notar o alcance do seu trabalho.

Você vai cobrir Brasília, em meados de setembro, mas teve uma rotina intensa em Gramado. Como é fazer esse trabalho formativo no festival mais popular do país?

Eu não me acostumo e sempre acho tudo muito bonito, muito grandioso. Num festival como o de Gramado, a gente tem contato com as equipes, entrevistando, assistindo filmes. Ali, dá para ver que a beleza do cinema, com sua intensidade de sentimentos, nunca morre. Eu não deixo de ser fã, mas, agora, carrego um olhar mais crítico.

Uma vez que você assumiu o ofício de formar olhares, o que as pessoas precisam ver para entender a sua cabeça?

Isso é difícil, porque eu ainda estou me entendendo. Sempre estou. Não tenho filmes favoritos. Algumas pessoas têm isso muito rápido. Eu, não, mas tem muitos filmes de que eu gosto por diversos motivos. Filmes que me marcaram bastante assim. Eu lembro de amar "Gladiador", do Ridley Scott, quando eu era muito criança. Depois disso, me apaixonei por Sofia Coppola, por Wes Anderson. No cinema nacional, "Benzinho" é um filme pelo qual sou apaixonado. Gosto de "Oeste Outra Vez", que é recente. "Ainda Estou Aqui" e "Central do Brasil" também precisam ser citados.