CRÍTICA / FILME / CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ!: Algemas do riso
Autêntico Didi Mocó do combate ao crime, o policial Frank Drebin Jr. tem o intestino frouxo. Solta pum em horas solenes e não segura a barriga quando está em diligências pelas ruas. O lado escatológico de sua cruzada contra o crime poderia tornar "Corra Que A Polícia Vem Aí!" ("The Naked Gun") um fedorento exercício de mau gosto, mas, diante da patrulha moral que sucateou a comédia, nos Estados Unidos, suas imposturas podem muito bem ser lidas como um ato de rebeldia.
Seu diretor, Akiva Schaffer (egresso de "Tico e Teco: Defensores da Lei"), consegue fazer de uma narrativa curtinha - tem 1h25' - uma apoteose para incorreções políticas, sem jamais resvalar no desrespeito. É livre... e leve..., mas tem responsabilidade.
Liam Neeson, seu protagonista, não estaria ali se não houvesse atenção às urgências sociais da arte, e ele se esbalda... e nos esbalda de rir. Dublado com genialidade por Armando Tiraboschi, o ator irlandês faz jus ao "Corra..." original, de 1988, com o gaiato Leslie Nielsen (1926-2010), que pode ser visto na Netflix. As partes II (1991) e III (1994) tão lá.
Leslie aparece num retrato. É o pai de Drebin Jr. Esse tira trapalhão anda na cola de um assassinato suspeito, que pode estar associado a um clube para milionários do magnata Richard Cane (Danny Huston). Existe uma tramoia de Cane em curso, para manipular o humor da população, ampliando o que existe de animalesco no povo, de modo a produzir assassinos.
Esse complô vai sendo revelado conforme o personagem de Liam segue a irmã do morto, a escritora Beth Davenport, papel que extrai uma atuação inspirada de Pamela Anderson. Há uma química covalente contagiante entre ambos, sobretudo na sequência em que um bandidão espia os dois de longe.
Entre galhofas nada comportadas, o longa abre uma discussão sobre valores heroicos perdidos, com Liam a brilhar. (R.F.)