Na toca do Leopardo: Locarno inicia sua 78ª edição com drama sobre conflito na Armênia
Um dos festivais mais respeitados do mundo, evento suíço inclui um vampiro meio brasileiro, meio romeno na competição
Centrado num acerto de contas entre o pertencimento territorial e a intolerância política, "Le Pays d'Arto", drama em que a cineasta Tamara Stepanyan exorciza demônios de sua Armênia natal, é a produção escolhida para a arrancada da 78ª edição do Festival de Locarno, na Suíça, na noite desta quarta-feira (6).
Camille Cottin, uma das estrelas francesas que mais crescem em popularidade nas telas do Velho Mundo, é a protagonista desse ensaio geográfico sobre finitude, que o curador Giona A. Nazzaro, diretor artístico do evento desde 2021, exibirá fora de concurso, na Piazza Grande.
É a praça da cidade, que fica a duas horas de Milão, na fronteira com a Itália. É lá que Tamara estreia a saga de Céline (papel de Cottin), que chega em terreno armênio para legalizar a morte de seu marido Arto, mas descobre que ele mentiu para todos: forjou uma identidade para si, num conflito armado da década de 1990 e é considerado um desertor. No dia seguinte a essa exibição, começa a disputa pelo troféu mais cobiçado da maratona helvética, o Leopardo de Ouro. O Brasil está na medula de um dos 18 concorrentes, que vem da Romênia.
Pilotado por Radu Jude, "Drácula" tem como produtor o carioca radicado em São Paulo Rodrigo Teixeira, da RT Features. Antes de estar ao lado de Walter Salles na conquista do Oscar dado a "Ainda Estou Aqui", Teixeira foi à Berlinale, na Alemanha, em fevereiro, apoiar Jude em outro longa-metragem, "Kontinental '25", também produção sua, que saiu da capital alemã com o prêmio de Melhor Roteiro. Seu trabalho mais recente estreia em Locarno no dia 10. Trata-se de uma releitura que o aclamado diretor romeno faz de um dos maiores patrimônios folclóricos de sua nação. Afinal, antes de virar livro, em 1897, nas mãos do dublinense Bram Stoker (1847-1912), Vlad Tepes Draculea (1431-1476), o Empalador, viveu neste mundo e, segundo os livros de História, matou gente a rodo, à frente do Principado da Valáquia, ali ao norte do Baixo Danúbio e ao sul dos Cárpatos Meridionais. Esperam-se imagens documentais, sátira política, espinafradas na União Europeia e (talvez) terror dessa nova visão sobre sua lenda.
Jude fez fama ao ganhar o Urso de Ouro de 2021 com "Má Sorte No Sexo ou Pornô Acidental". A provável excelência de seu exercício autoral vampírico será submetida ao crivo do júri oficial de Locarno, presidido pelo diretor cambojano Rithy Pahn. Entre seus competidores, impõem respeito "Mektoub, My Love: Canto Due", do franco-tunisiano Abdellatif Kechiche; "White Snail", que Elsa Kremser e Levin Peter trazem da Áustria; "As Estações", da portuguesa Maureen Fazendeiro; e "Dry Leaf", do fabulador georgiano Alexandre Koberidze. Na semana passada, a badalada diretora japonesa Naomi Kawase (de "Esplendor") finalizou o esperado "Yakushima's Illusion", com Vicky Krieps, para apresentar no certame suíço. Sua chegada é esperadíssima.
Uma das atrações mais esperadas de Locarno este ano, escalada como sua atração final, no dia 16 de agosto, é a nova versão (agora musical) de "O Beijo da Mulher Aranha", o livro de Manuel Puig (1932-1990), que inspirou um dos maiores êxitos do diretor Hector Babenco (1946-2016), em 1985. Jennifer Lopez encarna o papel que foi de Sonia Braga. O longa, dirigido por Bill Condon, passa no encerramento do festival, e tem Diego Luna e Tonatiuh nos papéis que foram de Raúl Julia (1940-1994) e William Hurt (1950-2022), que ganhou o Oscar pela versão de Babenco, interpretando o decorador Molina.