Corte para um cult: 'Carlota Joaquina'

Primeiro fenômeno de público do Brasil após uma paralisação de cinco anos na produção de cinema, em 1990, regressa soberano às telas

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Marieta Severo reinou nas bilheterias nacionais com 'Carlota Joaquina'

Era uma vez um país cujo cinema andava paralisado. Atravessava uma fase penosa, incapaz de produzir imagens de sua gente, em decorrência de uma artimanha presidencial que brecou o investimento na arte audiovisual, até que uma princesa chegou para salvar a pátria. A data em questão, 6 de janeiro de 1995, um Dia de Reis. Ali estreou "Carlota Joaquina", que voltará ao circuito em 14 de agosto, com cópia remasterizada em 4K, para comemorar os 30 anos de sua estreia e do resgate de nossa autoestima cinéfila.

Em meados dos noventa, a Embrafilme, empresa que assegurava a feitura de títulos nacionais para a tela grande, foi para as cucuias, por culpa de uma canetada do governo Fernando Collor. Com ela, o sonho de fazer do cinema uma atividade comercial sustentável, nesta pátria, parecia ter avinagrado. Aí, estreou o primeiro longa-metragem dirigido pela atriz Carla Camurati, que havia se lançado na realização antes, com o curta "A Mulher Fatal Encontra O Homem Ideal" (1987), e o público voltou... a esperança também.

Marieta Severo encarnava o papel título: a nobre espanhola que, casada com o monarca português Dom João VI, precisa zarpar para a América do Sul do século XIX a fim de assumir o reinado do lado de cá do Atlântico. O humor inusitado, traduzido na dobradinha de Marieta e Marco Nanini (no papel de um rei glutão, devorador de frango assado), fez aquele exercício artesanal de comédia, ancorado no cais da reconstituição histórica, virar um ímã de plateias. Vendeu 1.286.000 ingressos.