Spike Lee sempre faz a coisa certa

Aos 68 anos, o maior ícone da luta antirracista entre os diretores autorais em ação nas telas lança na Croisette o thriller 'Highest 2 Lowest'

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

O astro Denzel Washington protagoniza o thriller 'Highest 2 Lowest'. O novo longa de Spike Lee já é cotado para o Oscar antes mesmo de sua estreia

 

Cotado para o Oscar sem sequer ter sido exibido, o thriller "Highest 2 Lowest" marca a volta de Spike Lee a Cannes, três anos depois de sua passagem como presidente do júri do maior festival de cinema de todo o planisfério audiovisual. A projeção é hors-concours, mas a procura do público pela produção supera a demanda por qualquer dos títulos já exibidos em concurso desde a abertura do evento, terça passada.

Foi Cannes quem jogou luzes sobre "Faça A Coisa Certa" (1989), o longa que pavimentou o prestígio do realizador de 68 anos, além do recente "Infiltrado na Klan", que deixou a Côte d'Azur, em 2018, levando o Grand Prix cannoise. Seu novo exercício narrativo se ambienta em Nova York e tem como base o cult "Céu e Inferno" (1963), de Akira Kurosawa (1910-1998).

A releitura de Spike assume como seu protagonista o magnata da música David King (Denzel Washington). Ele recebe um pedido de resgate depois que um dos membros de sua família é sequestrado e se vê diante de um dilema moral de vida ou morte. A vida dessa família rica e de seu motorista está prestes a ser virada de cabeça para baixo. Jeffrey Wight e A$ap Rocky integram o elenco.

"Estou ficando velho, não sou mais um garoto, mas ainda percebo que, quando falamos em racismo, as coisas ruins de antes ainda estão por aí", disse Spike ao Correio da Manhã, em sua passagem por Cannes com "Infiltrado Na Klan", que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. "Tudo o que eu quero é fazer a América despertar. O doido (o presidente Trump) está por aí e precisamos abrir os olhos".

Reclamar da idade virou uma constante nas recentes declarações do cineasta que fez da militância racial uma bandeira estética desde sua estreia na direção, em 1979 - data de seu primeiro curta-metragem, "Last hustle in Brooklyn".

Quando presidiu o time de jurados de Cannes, em 2021 (tendo Kleber Mendonça Filho a seu lado), o diretor de "Febre da Selva" (1991) não poupou críticas a Jair Bolsonaro (então presidente do Brasil) ao chamá-lo de gangster, publicamente.

"A bagunça permanece na América", diz Spike, que amplifica sua histórica parceria com Denzel, vinda lá de "Mais e Melhores Blues" (1990). "É sempre bom ter a família por perto".