Sem 'game over' pro garimpo do milhão
Em meio à forte concorrente chinesa, Hollywood preserva seu espaço no ranking das maiores receitas cinematográficas do ano em 'Minecraft', que amplia a popularidade do astro Jack Black
A menos que o vindouro "Superman" do diretor James Gunn gere um estouro da boiada cinéfila e fature aos tubos, a maior bilheteria de 2025 será da China, graças à animação "Ne Zha 2: O Renascimento da Alma", que beira US$ 1,9 milhões na venda de ingressos, em cartaz em 23 países. Hollywood reage como pode para manter um lugar de destaque no pódio dos maiores faturamentos do mercado. Pódio que historicamente foi liderado pelos EUA. O nº 2 do ranking, encarado hoje como o maior acerto hollywoodiano no quadrimestre, é "Um Filme Minecraft", de Jared Hess.
Sua receita está em US$ 816 milhões. Seu maior apelo é a conexão do longa-metragem com uma linha de videogames que alfabetizou gerações de crianças nos últimos 14 anos, mas a figura de Jack Black, em estado de graça, ajuda um bocado.
Ciente de que anda impossível salvar filmes de super-heróis baseados em HQs da falência anunciada, vide o desastre comercial do último "Capitão América" e seu Hulk Vermelho, a Meca americana do cinemão tem constatado que jogos eletrônicos podem ser a maior (e mais rentável) diversão. "Super Mario Bros." (2023) faturou US$ 1,3 bilhão quando se esperava bem menos dele. A franquia "Sonic" (2020-2024) não cessa de dar lucro, tendo arrecadado US$ 1,2 bilhão. Projetos ainda em gestação pautados por games, como a versão para as telonas de "Fantasma de Tsushima", movimentam multidões nas redes sociais.
Em meio a esse cenário, "A Minecraft Movie" veio para ficar. Custou alto (US$ 150 milhões), mas já faturou alto também... beeeeem alto. Deve fechar este feriado com US$ 1 bilhão. No Brasil, suas salas seguem lotadas.
O fenômeno é calçado no apelo infantojuvenil do jogo criado em 2011 pelo Mojang Studios, que refaz a realidade a partir de uma geometria de cubo. Há nele algo do "Jumanji" (1995) original: um clima pueril de peripécias sem fim. Um tempero de bom humor em pitadas generosas amplia o paladar de uma narrativa de correrias, que tem a função (importante) de atrair plateias mirins, de dentes de leite, para descobrir o cinema e aprender a amá-lo.
A premissa central é a do desajuste. Há um grupo de pessoas solitárias em cena: os irmãos Natalie e Henry (Emma Myers e Sebastian Hansen); a corretora e fã de animais Dawn (Danielle Brooks); e o ex-craque de videojogos "The Garbage Man" Garrison (Jason Momoa). Por razões distintas, eles esbarram com uma mina que os transporta para o mundo mágico chamado de Overworld, onde tudo é cúbico. Lá, encontram um humano perdido, Steve (papel de Jack Black, dublado aqui por Paulo Vignolo), em busca de meios para voltar à Terra. Ele finge pactuar com as criaturas que dominam aquela realidade do avesso, mas acaba ajudando a turma recém-chegada a encontrar um veio de voltar, numa dinâmica de correrias com viradas sucessivas.
Henry, um inventor nato, é o personagem que melhor consegue ser desenvolvido por um argumento (demasiadamente) encantado com as estranhezas da arena onde se desenrola. A presença da atriz Jennifer Coolidge como a vice-diretora Marlene, uma autoridade escolar, amplia o tônus cômico do longa, que se estrutura sobre uma montagem agilíssima.
No Natal, Black já havia se destacado... um bocado... no streaming com a comédia "Querido Papai Noel" ("Dear Santa", 2024), de Peter Farrelly. É o filme natalino mais doidão (e mais criativo) da indústria pop em anos, desde "Bad Santa" (2003). Fazia tempo que o ator de "Escola do Rock" (2003) não atuava de forma tão hilária. Ele vive um diabo trapalhão. Quando um menino envia sua lista de desejos natalinos ao Bom Velhinho com um erro de grafia crucial, o tal demônio chega à Terra para causar estragos nas festas de fim de ano.
Até dezembro, Black há de arrancar mais uma fortuna em dólares com a estreia do remake de "Anaconda". A seu lado está Selton Mello, um fazedor de blockbusters em telas brasileiras.
Esta semana, com a estreia de "Thunderbolts", a Marvel vai testar sua força de arrebatar fãs para as salas de exibição. Outra aposta forte da indústria americana é "Missão: Impossível - O Acerto Final", com Tom Cruise, que estreia no dia 22 de maio. O novo Super-Homem, falado no início deste papo, será lançado em 10 de julho, com David Corenswet no papel de Clark Kent.