Os filmes esnobados pela Academia no Oscar 2025

Cults premiados e sucessos de público acabaram não passando pelo crivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, incluindo o novo Almodóvar

Por Rodrigo Fonseca  | Especial para o Correio da Manhã

Sem vagas nos prêmios da Academia, Tilda Swinton será homenegada na Berlinale, no dia 13

Rodeado pela alegria brasileira decorrente das três indicações ao Oscar de "Ainda Estou Aqui", o Oscar 2025 será entregue no dia 2 de março com muitas surpresas em seu rol de indicações, o que não aplaca as frustrações geradas pelos incômodos esquecimentos cometidos por seu colegiado de votantes. Algumas vozes autorais de peso e muitas interpretações badaladas ficaram de fora da competição, como foi o caso de "O Quarto ao Lado", que garantiu o Leão de Ouro ao espanhol Pedro Almodóvar.

Esse libelo do artesão do melodrama em prol da dignidade às portas da morte, num enredo sobre eutanásia, não concorre em nenhuma frente sequer da cerimônia anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Uma de suas estrelas, a escocesa Tilda Swinton, chegou a disputar o Globo de Ouro (perdendo para a carioca Fernanda Torres), e será homenageada com o Urso Honorário da 75ª Berlinale, no próximo dia 13.

O tributo berlinense promete menções à sua entrada no universo almodovariano, preterido pela premiação estadunidense que tem o musical francês "Emilia Pérez" como seu recordista de nomeações, em concurso em 13 categorias.

Vitrine para alguns dos concorrentes da Academia deste ano, inclusive "Ainda Estou Aqui", o Festival de Roterdã, na Holanda, vai projetar neste sábado umas das iguarias de autoralidade que o Oscar deixou de lado: "Tudo Que Imaginamos Como Luz", da Índia. Sua realizadora, Payal Kapadia, ganhou o Grande Prêmio do Júri em Cannes e disputou o Globo de Ouro de Melhor Direção, mas nada disso impressionou a Meca de Hollywood. Em sua trama, a enfermeira Prabha (Kani Kusruti) recebe um presente inusitado do ex-marido. Nesta mesma época, a colega de quarto dela, Anu (Divya Prabha) começa a namorar e tenta encontrar um lugar onde o novo casal possa ter intimidade em paz. Nesse momento, uma viagem para o litoral vem bem a calhar à rotina delas, que se abre para a aposentada Parvaty (Chhaya Kadam).

No domingo, Roterdã vai rir (e despejar umas lagriminhas) com "Hard Truths", a nova Comédia Humana do octogenário diretor britânico Mike Leigh ("Vera Drake"), que vinha sendo tratada como potencial nominada ao Oscar (mas nada disputará) desde sua passagem pelo Festival de San Sebastián, quatro meses atrás. Sua protagonista, Mariane Jean-Baptiste, foi indicada pela Academia à láurea de Melhor Coadjuvante em 1997, por "Segredos e Mentiras", também de Leigh, mas ficou distante dos holofotes americanos desta vez, apesar dos elogios que colheu no papel de Pansy. Essa figura irascível, zangada, sem papas na língua, serve de eixo à crônica de costumes do Reino Unido suburbano promovida pelo cineasta inglês.

Apesar de fraturar opiniões, "Queer", do siciliano Luca Guadagnino, parecia ser um convite ao Oscar para o 007 Daniel Craig, sobretudo após sua projeção no Festival de Veneza. Acabou que o mais recente James Bond não teve chances com a Academia. Nesta sexta e neste sábado, às 23h59, o Estação NET Rio prestigia o ator ao exibir esse desempenho que divide águas em sua bem-sucedida carreira. Em diálogo com o romance homônimo do beatnik William S. Burroughs (1914-1997), ele Interpreta Lee, um solitário americano expatriado no México dos anos 1950, à busca de um amor para chamar de seu entre homens mais jovens que o encantam.

Outro título irresistível de Gudagnino, "Rivais" (hoje na Prime Video) sonhou repetir na festa do Oscar a vitória que teve no Globo de Ouro, onde ganhou o troféu de Melhor Trilha Sonora, graças às composições de Trent Reznor e Atticus Ross. O duo, entretanto, não emplacou nas predileções da Academia. Caetano Veloso tem música nesse triângulo amoroso ligado ao tênis.

Dado como presença certa na briga dos atores coadjuvantes deste Oscar, Denzel Washington terá de adiar seu anseio por uma terceira estatueta para depois, quiçá 2026, quando deve se destacar com "Highest 2 Lowest", de Spike Lee. Acreditava-se que ele entraria no certame da Academia deste ano por seu desempenho como um empresário de lutas em "Gladiador II", de Ridley Scott. Apesar do êxito comercial do épico romano, ele perdeu sua vaga na competição.

Até o final de outubro, as associações sindicais dos Estados Unidos vão anunciar os ganhadores de suas premiações. São elas que prenunciam quem leva o Oscar.