Paulo Fontenelle: 'Teatro é corpo inteiro e cinema é um recorte de tudo'
Paulo Fontenelle parece que nasceu com uma câmera na mão e um roteiro de sua autoria. Ao mesmo tempo, passeia por diversos gêneros, teatro, um autor que não se impõe qualquer limitação. Paulo tem uma obra eclética, pois sua capacidade de criação se expande e passeia por cinema, teatro e televisão, com um cuidado de detalhes, no olhar do que capta e na acertada direção de atores e atrizes a que os artistas correspondem com ótimas atuações.
Paulo foi também diretor do filme "O Porteiro", adaptação da peça teatral com o ator Alexandre Lino; do documentário "Blitz - O Filme" (a história da banda Blitz), em dos longas-metragens "Inverno" (com Renato Góes, Thaila Ayala e Barbara Reis); "Intruso" (com Eriberto Leão e Danton Mello); "Apaixonados" (com Nanda Costa e Roberta Rodrigues); "Divã a 2" (com Vanessa Giácomo, Rafael Infante, Marcelo Serrado); "Se Puder, Dirija!" (com Luiz Fernando Guimarães e Leandro Hassum); e dos documentários "Sobreviventes - Os Filhos da Guerra de Canudos" e "Evandro Teixeira - Instantâneos da Realidade". Na TV, Paulo está lançando a série de comédia "Cinema Café", com Paloma Duarte e Bruno Ferrari, e também acumula títulos no Canais Viva, Fox e TV Cultura.
Investindo no terror-suspense, gênero em recente expansão no cinema brasileiro, Fontenelle é também roteirista de "Sala Escura", que traz no elenco Allan Souza Lima, Paulo Lessa, Osvaldo Mil, João Vitor Silva, Luiza Valdetaro, Priscila Buiar, Tainá Medina, Raissa Chaddad, Danilo Moura e Sofia Malta.
A trama se passa numa sala de cinema, quando um grupo de espectadores é surpreendido por uma brusca interrupção do filme, substituído pelas imagens de uma garota sendo torturada por um homem vestido de bate-bolas. Confusos e assustados, tentam deixar o local quando se descobrem trancados na sala.
Paulo Fontenelle (meu aluno querido) fala com exclusividade ao Correio sobre "Sala Escura" e como trabalha em seu processo de adaptação teatro/cinema.
Como foi o processo de filmagem em um único cenário, algo que é característico do teatro?
Paulo Fontenelle - Filmar somente dentro de uma sala de cinema foi um grande desafio para manter a dinâmica do filme. Tivemos que ser criativos para ter planos diferenciados e usar a sala de cinema ao nosso favor. O cinema Odeon é enorme, tem dois andares, corredores e banheiros, o que trouxe uma variação boa de cenários. E a ideia é que o filme seja uma experiência diferente quando for visto em uma sala de cinema. São espectadores dentro de um cinema vendo personagens sendo torturados dentro de um cinema. Uma verdadeira imersão no terror.
E como foi filmar "O Porteiro", que é o movimento contrário, de um palco para um edifício com diferentes apartamentos?
Esse filme surgiu de uma peça homônima que escrevi e dirigi que já está a mais de sete anos em cartaz com o ator Alexandre Lino. A peça narra somente uma situação que é uma reunião de condomínio conduzida por um porteiro. Para o filme foi necessário estender essa trama. O que eu fiz em termos de roteiro foi criar uma aventura para o nosso porteiro Waldisney. Peguei os personagens da peça e os coloquei dentro dessa aventura e tudo tomou proporções muito maiores. Aproveitei a liberdade de poder passear por vários cenários e criei situações super divertidas do cotidiano de um edifício, tudo seguindo a estrutura já existente na peça. O desafio foi grande, pois é um monólogo conduzido pelo Lino de forma genial, mas sozinho no palco. No final, ficamos muito felizes com a adaptação, pois ela só acrescentou a peça que segue em cartaz até hoje.
Como o seu trabalho se diferencia, se é que diferencia, quando dirige e escreve para o teatro e dirige e escreve para o cinema?
Acredito que a grande diferença do trabalho do diretor em relação a teatro e cinema e entender principalmente que teatro é corpo inteiro e cinema é um recorte de tudo. Eu poderia responder a essa pergunta falando do básico, da câmera, da quarta parede, mas isso é o óbvio. Pra mim, entendendo a linguagem de cada um dos meios eu trabalho melhor o ator. Por exemplo, temos um porteiro diferente no teatro e no cinema apesar de ser o mesmo personagem, o tom é diferente. Se o 'Sala Escura' fosse uma peça, o trabalho com os atores seria completamente diferente. É um filme de terror que exige um limite de interpretação para não cair no trash, é preciso defender o elenco para que tudo fique crível. E no caso do "Sala Escura" ainda tem a questão de todos os efeitos especiais. E o legal do filme é que a H2O (distribuidora do filme) me deu liberdade total criativa. E os produtores Rafael d'Oran, Fabrício Araújo e Paulo Amoreira me deram as ferramentas para que fizesse o filme do jeito que eu queria.
Ainda tem algum filme que você sonhe fazer?
Acabei de realizar dois sonhos cinematográficos, o "Sala Escura", que é um projeto de terror que sempre me foi muito pessoal e acabei de filmar - e estou montando - o "Mariana", uma história autobiográfica sobre a minha infância. A história do meu primeiro amor. Acho que hoje o meu projeto dos sonhos é seguir filmando, especialmente filmes de gênero. Eu gosto de todos os tipos de filme. Meu próximo projeto é uma comédia, mas quero fazer mais terror, mais drama e também filmes de ação.
