Com mais uma sessão no Rio de Janeiro, agendada para o feriadão de 155 de novembro, às 20h20, no Cinesystem Botafogo, "O Conde de Monte-Cristo" vem fazendo redes exibidoras do mundo todo sorrir com uma arrecadação mastodôntica (suas cifras beiram US$ 76 milhões), o que redefine o papel de sua pátria, a França, na pirâmide financeira do planisfério cinéfilo.
Um dos títulos mais procurados do 15° Festival Varilux, hoje espalhado por 60 cidades brasileiras, o épico dirigido por Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte vendeu quase 9,2 milhões de ingressos em seu país, configurando-se como maior fenômeno francês desta década.
Com base no romance de Alexandre Dumas (1802-1870) publicado em capítulos de 1844 a 1846, a trama acompanha a cruzada vingadora do marinheiro Edmond Dantès (Pierre Niney) depois de passar 14 anos preso por um crime que não cometeu, usando um tesouro como motor de sua revanche.
A releitura austera de La Patellière e Delaporte colou no Velho Mundo, provando o quanto as estéticas francesas são capazes de capturar públicos diversos. Não é raro a nação presidida por Emmanuel Macron gerar produções que ultrapassam a marca do blockbuster, a julgar dois exemplos que ocupam seu pódio de receitas comerciais milionárias: "A Riviera Não É Aqui" vendeu 20 milhões de tíquetes em 2008 e "Intocáveis", que consagrou Omar Sy, soma 19,4 milhões de bilhetes vendidos, entre 2011 e 2012.
Com a chegada da covid-19, houve uma retração severa de faturamento naquele mercado. É fato que a frequência popular às telonas retraiu por todo canto, mas diante do histórico de êxito dos franceses, o susto lá foi grande. O maior sucesso que aquele mercado emplacou em 2022 foi "Qu'Est-ce Qu'On a Tous Fait Au Bon Dieu?", que vendeu 2.429.450 tíquetes. É a terceira parte da franquia de humor "Que Mal Eu Fiz A Deus", iniciada em 2014. É um número expressivo para vida pós pandêmica, mas comparado aos recordes dos outros dois longas dessa cinessérie - o primeiro foi visto por 12,3 mil pagantes e o segundo, de 2019, por 6,6 mil pessoas -, o resultado foi desastroso. Em 2023, as cifras foram bem mais alta, a começar pelo fato de "Astérix & Obélix: O Reino do Meio" (lançado aqui via Netflix) ter vendido 4,5 milhões de tíquetes de fevereiro a maio do ano passado. Este ano, o candidato oficial da França ao Oscar, o musical "Emilia Pérez" (que abriu o Festival do Rio, em outubro), já vendeu 1 milhão de bilhetes e segue mobilizando cinemas europeus, assim como "O Conde de Monte-Cristo".
"A modernidade de Dantès está em ele ser um herói sombrio, com um desejo de vingança que consome sua alma e reflete um egoísmo muito contemporâneo", disse Delaporte ao Correio da Manhã em sua visita ao Rio, numa sessão de "Le Comte de Monte-Cristo" no Cinesystem Botafogo. "Existe nessa história algo do Novo Testamento, que é o debate sobre perdão".
No fim de semana, as sessões do Varilux em terras cariocas estavam apinhadas de gente, a se destacar "Bolero, O Mistério de Ravel", de Anne Fontaine. Há 15 anos, a maratona organizada por Emmanuelle e Christian Boudier mobiliza os polos de exibição do RJ e de todo o país com a missão de retratar as novas investigações artísticas de uma pátria que emplacou vozes autorais a granel - e, aliás, inventou o conceito de autoralidade fílmica, além de ter inventado o próprio cinematográfico, em 1895 -, preservando a saúde financeira da indústria audiovisual europeia.
Por décadas a fio, seu recordista de arrecadação foi uma comédia de 1966, "La Grande Vadrouille" (aqui chamada "A Grande Escapada"), de Gérard Oury (1919-2006), que atraiu 17.267.607 pagantes em sua terra natal, e mais alguns milhões planeta afora.
Com a preocupação de mesclar não-ficção, animação e ficções das mais variadas temáticas, os Boudier trouxeram outros êxitos populares para o Varilux de 2024.
É o caso de "A Favorita do Rei" ("Jeanne du Barry"), da realizadora Maïwenn, que abriu o Festival de Cannes de 2023 e foi prestigiada por 764 mil espectadoras/es, com uma ajudinha de Johnny Depp. De volta às telas após a batalha judicial travada contra sua ex, a atriz Amber Heard, Depp inflamou ânimos, mas renovou seu séquito de fãs, em sua passagem pela Croisette, com essa suntuosa reconstituição de época. Em tom de folhetim histórico, a trama é baseada em fatos reais: o romance entre o Rei Luís XV (1710-1774), papel de Depp, e uma cortesã, Marie-Jeanne Bécu (1743-1793), conhecida como Madame Du Barry, vivida pela própria Maïwenn. Tem exibição dele nesta terça, às 16h20, no Cinesystem Botafogo.