Centrado na luta da advogada e ativista Eunice Paiva (1932-2018) para encontrar o paradeiro do marido (o ex-deputado Rubens Paiva), levado por agentes à paisana do governo militar, "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, chega às telas nesta quinta-feira escancarando mentiras que alimentaram a retórica fraudulenta da ditadura brasileira, entre 1964 e 1985.
A atuação de Fernanda Torres encanta plateias do mundo todo desde a primeira projeção do filme, no Festival de Veneza, de onde saiu com o prêmio de Melhor Roteiro. Seu lançamento, hoje, que aquece a campanha popular do longa-metragem para o Oscar 2025, amplia o espaço que o cinema brasileiro deu à crônica dos Anos de Chumbo em sua grade desde o primeiro semestre.
Há uma expectativa de que o tema ganhe um reforço nas salas de projeção até dezembro com a estreia de "A Batalha da Rua Maria Antônia", de Vera Egito, laureado com o troféu Redentor de Melhor Filme no Festival do Rio de 2023. Sua trama fala da resistência estudantil em 1968.
Esse também foi o tema de "Zé", de Rafael Conde, sobre a clandestinidade de um jovem que se insurgiu contra a égide dos generais.
Égide essa que se estendeu por outras nações latinas, o que se vê no Chile de 1973 retratado por Paulo Nascimento em "Ainda Somos os Mesmos", que se impõe em cartaz com o desempenho de Carol Castro.
Uma das vozes autorais de maior relevo no exorcismo dos demônios fardados de outrora, Lúcia Murat lançou este ano "O Mensageiro", que ganhou um balde de prêmios no Festival de Paraty, em agosto.
Em sua trama, depois que a jovem Vera (papel de Valentina Hreszage) é presa em uma fortaleza militar durante a ditadura em 1969, a moça conhece um soldado, Armando (Shico Menegat), avesso à brutalidade do regime corrente. Diante da tortura, ele decide levar uma mensagem para a família de Vera. Assim, ele estabelece uma relação afetiva com a mãe da detenta. Vários outros longas de Murat sobre o cabresto ditatorial (como "Que Bom Te Ver Viva" e "Quase Dois Irmãos") estão no streaming Reserva Imovision.
Também em agosto, salas cariocas receberam, lá do Paraná, um (imperdível) longa sobre a época dos milicos no Poder: "Entrelinhas", de Guto Pasko. No roteiro, ambientado em 1971, Beatriz, uma estudante de 17 anos, é detida por policiais do DOPS e militares do Quartel General de Curitiba sob a acusação de ser colaboradora de uma célula da VAR-Palmares na tríplice fronteira.
No Festival do Rio, em outubro, Silvio Tendler propôs uma genealogia muito particular da ditadura em "Brizola - Anotações Para Uma História", ainda inédito.