Sean Penn na bandeira dois
Enquanto cults do astro se espalham por streamings, seu recente desempenho em 'Daddio' chega ao país na maratona carioca
Fala-se muito em "Daddio", drama de desabafos que o Kinoplex São Luiz exibe nesta quinta (10), às 21h15, na grade do Festival do Rio. Cada saliva gasta por Girlie (Dakota Johnson) na narrativa ambientada quase 100% no interior de um táxi umedece o calejado coração do chofer de praça Clark, um dos papéis mais ternos de Sean Penn em décadas.
Sob a direção de Christy Hall, esse par de estrelas tem uma performance que cativa pela habilidade de dar dor a palavras simples. Na trama, a passageira chega ao aeroporto após uma viagem e se entrega ao celular, numa troca de mensagens a princípio cálidas e, mais tarde, abusivas, ao longo de uma jornada até o bairro Hell's Kitchen, numa Manhattan congestionada. Clark sabe ouvir. O tempo gasto ao volante talhou seus tímpanos para escutas nas quais tem sempre um conselho na manga para ofertar.
Num dado ponto da corrida, as angústias de Girlie são similares a muitas das que ele tem em relação ao vazio existencial que sente. Penn tem uma atuação devastadora nesse filme que vem assaltado telonas da Europa à força de sua boa acolhida em maratonas cinéfilas.
Envolvido atualmente em "The Battle of Baktan Cross", de Paul Thomas Anderson, ao lado de Leonardo DiCaprio e Regina Hall, Penn hoje prepara um novo filme no posto de realizador: um documentário sobre o jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em 2018. Seu exercício mais recente como realizador, "Superpower", .doc sobre a Guerra da Ucrânia, permanece inédito em circuito por aqui.
Porém, uma de suas incursões ao exercício da direção, o drama "Flag Day - Dias Perdidos", indicado à Palma de Ouro de 2021, acaba de ser lançado aqui, via YouTube, onde está disponível para compra ou aluguel. Sua protagonista, Dylan Penn, é filha do ator, e vive Jennifer, jovem problemática que entra numa jornada errática pelos EUA trombando com seu pai trambiqueiro, vivido por Penn. "Tento apoiar pessoas que estão apoiando a liberdade", disse ele na Berlinale de 2023, ao lançar "Superpower", sobre a violência de Vladimir Putin na Guerra da Ucrânia.
Codirigido por Aaron Kaufman, este ensaio sobre a violência institucionalizada foi recebido com controvérsia pela crítica pelo modo como Penn se debruça sobre a cultura da brutalidade na mídia. "Este não é um filme parcial pois fala de uma guerra que não é ambígua", disse Penn.
Muitas vezes grandes festivais, como o de Cannes, estenderam tapete vermelho à presença de Penn, como se viu na Croisette em 2011, com a estreia mundial de "A Árvore da Vida", de Terrence Malick, que ganhou a Palma de Ouro. É possível vê-lo hoje na MUBI. Na Amazon Prime, encontra-se uma série de produções estreladas pelo artista, como "Os Últimos Passos de Um Homem" (1995), "Colors - As Cores da Violência" (1988), de Dennis Hopper; "Tiro de Misericórdia" (1990), de Phil Joanou; e "A Intérprete" (2005), de Sydney Pollack. Ou alguns filmes que Penn dirigiu, como "The Last Face - A Última Fronteira" (2016).
