Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Patricia Mazuy, a diva do thriller trágico

'A Prisioneira de Bordeaux', de Patricia Mazuy, diretora elogiada em Cannes e pela prestigiosa revista Cahier du Cinema | Foto: Divulgação

 

Cults como "Rififi" (1955) e "O Samurai" (1967) são provas históricas do quanto os franceses amam o filão policial - apelidado por eles de polar - e o quanto o cinema daquela pátria busca construir uma cartilha muito pessoal em torno do gênero (do qual Hollywood usou e abusou), conectando-o com temas políticos ou existenciais - o que o é caso da obra de Patricia Mazuy.

A diretora é hoje uma diva dessa linhagem narrativa, elogiada nas páginas da revista "Cahiers du Cinéma" (Bíblia do audiovisual) pela força imagética de sua recorrente imersão nos códigos das narrativas criminais. Consagrada por "Paul Sanchez Está De Volta" (2018), ela refina seu estilo de retratar a Lei - e a bandidagem - no doloroso "A Prisioneira de Bordeaux ("La Prisonnière De Bordeaux"), que a 48ª Mostra de São Paulo exibe nesta quarta, quando sua programação chega ao fim. Revelada pela Quinzena de Cineastas de Cannes, em maio, a produção será projetada nesta quarta-feira (30), às 17h10, na Reserva Cultural 2.

Seu roteiro propõe um ensaio sobre alteridade no bastidor do universo carcerário. Duas mulheres de classes sociais diferentes, Mina (Hafsia Herzi) e Alma (Isabelle Huppert), vão formar uma aliança conforme visitam seus companheiros numa prisão.

"Ando atenta à dificuldade de diálogo que as pessoas têm hoje em dia, num espaço silencioso quase intransponível, de onde vem a brutalidade", disse Patricia ao Correio em Locarno, ao ser indicada ao Leopardo de Ouro por "Boliche Saturno" (2022).

Sem medo da violência, a cineasta faz um ensaio sobre a fraternidade ao narrar o conflito entre um ambicioso oficial da polícia francesa, Guillaume (Arieh Worthalter), e seu irmão malandro, Armand (o ótimo Achille Reggiani). Os problemas entre eles começam quando o pai morre e deixa como herança um clube de boliche. Guillaume crê que deixar o negócio nas mãos de Armand pode salvá-lo do ócio e do erro. Mas…

"Sinto que tenho feito filmes sobre espaços territoriais, mais do que sobre pessoas, nos quais os vetores geográficos se misturam a uma mirada trágica, que, aqui, em "A Prisioneira de Bordeaux", é aplicada a uma cidade provinciana da França", explica Patricia. "Estamos falando da violência de um lugarejo que se comporta de modo cosmopolita. Lá, as personagens travam uma relação especular de conflito. É essa tensão que eu busco na tradição do thriller francês".

Em 2022, a realizadora ganhou uma retrospectiva integral de sua obra no Festival de Mar Del Plata, na Argentina.