Habemus Mostra de São Paulo até quarta-feira que vem, totalizando 400 títulos de uns 80 países, com um desfecho confiado a Francis Ford Coppola, que estará no Brasil para exibir "Megalópolis" e receber o troféu Leon Cakoff. Confira o que deve ser visto neste fim de semana no evento:
MAMÍFERA, de Liliana Torres (Espanha): O festival South by Southwest, nos EUA, deu o prêmio especial do júri a esta exótica dramédia ibérica no qual Lola (Maria Rodrígez Soto) leva uma vida feliz ao lado do companheiro, Bruno (Enric Auquer), até que uma gravidez inesperada altera todos os seus planos. Ainda que sempre tenha deixado claro que ser mãe não era um objetivo, Lola se sente desafiada pelas expectativas da sociedade. Onde: Cinesystem Frei Caneca 4, sexta, 13h
MARIO DE ANDRADE, O TURISTA APRENDIZ, de Murilo Salles (Brasil): O realizador de "Nunca Fomos Tão Felizes" (1984) passeia pelas anotações do inquieto bardo modernista com base em sua visita ao Rio Amazonas, em 1927, anterior à criação de "Macunaíma". Um ensaio visual sai desse confronto da imagem com a prosa, num processo de dição sofisticado. Onde: Espaço Augusta 2, sexta, às 15h10
MANAS, de Marianna Brennand (Brasil): Laureado com o prêmio principal da Jornada de Autores/as do Festival de Veneza, este angustiante mergulho da documentarista na ficção explora a violência sexual contra menores na região Norte. A jovem Marcielle (Jamilli Correa), que está tirando seu RG, aos 13 anos, confronta-se com os abusos do pai numa casa ribeirinha sem muita esperança. Seu roteiro é uma aula de sociologia, com Dira Paes de coadjuvante. Onde: Reserva Cultural 2, sexta, às 15h45
PIANO DE FAMÍLIA ("The Piano Lesson"), de Malcolm Washington (EUA): August Wilson (1945-2005) teve a peça "Fences" montada por Denzel Washington na Broadway, em 2010, e depois filmada por ele mesmo, em 2016. Agora, o filho do ator, Malcolm, filma outra peça do mesmo dramaturgo, outrora levada à TV, como telefilme. Na versão atual, uma batalha está se formando na casa dos Charles. No centro da briga está um estimado piano. De um lado, um dos irmãos planeja vender o instrumento para aumentar a fortuna. Do outro, a irmã fará de tudo para manter o único vestígio desse legado familiar. Um tio (papel de Samuel L. Jackson) vai mediar essa guerra. Onde: Cinemateca Espaço Petrobras, sexta, 18h
LISPECTORANTE, de Renata Pinheiro (Brasil): Uma das mais potentes diretoras de arte deste país, respeitada como cineasta por longas como "Carro Rei" (premiado em Gramado em 2021), a realizadora pernambucana brinca de Aki Kaurismäki no Recife, numa narrativa de um humor tão cartunístico quanto o do mestre finlandês. Marcélia Cartaxo é a protagonista, a artista plástica Glória, que volta à sua cidade natal e passa por locais onde Clarice Lispector viveu. Lá, prova do prazer e da força analgésica da imaginação. Onde: Reserva Cultural 2, sábado, 15h
REAS, de Lola Arias (Argentina): Um experimento híbrido de documentário e encenação feito pela diretora de "Teatro de Guerra" (2018). Sua narrativa registra a vida carcerária de Yoseli, que foi detida no aeroporto por tráfico de drogas. Na cadeia, conhece Nacho, um homem trans que está ali por estelionato e que montou uma banda de rock dentro da prisão. Em busca de paz, Yoseli se junta às outras detentas para cantar, dançar e reencenar a vida no cárcere em Buenos Aires. Onde: Cinesystem Frei Caneca, sábado, 15h10
OLHE NOS MEUS OLHOS ("Look Into My Eyes"), de Lana Wilson (EUA): Taí "O" documentário estrangeiro da Mostra de 2024. É o tipo de produção que carece de distribuição urgente no Brasil, por ser um ímã de público. Com a meta de traçar um retrato de um grupo de médiuns da cidade de Nova York, o documentário registra sessões psíquicas particulares de um conjunto bastante distinto de clientes, que fazem questionamentos que não podem fazer em nenhum outro lugar. Gradualmente, os próprios médiuns se tornam os personagens principais do filme, conforme suas motivações e experiências de solidão - e perda - são reveladas. O longa foi exibido antes no Festival de Sundance, na mostra CPH: DOX e na maratona Hot Docs. Onde: Cinesystem Frei Caneca, sábado, às 15h10
MADELEINE EM PARIS, de Liliane Mutti (Brasil): Como um brasileiro queer, andrógino, filho de santo no candomblé, imigrante de Santo Amaro da Purificação na Europa reúne, há 23 anos, mais de 60 mil pessoas dançando aos sons dos atabaques pelas ruas parisienses? Esse ritual, a Lavagem da Madeleine, que lava as escadarias da igreja francesa, é entrelaçado à vida do seu criador, o dançarino do cabaré Paradis Latin, Robertinho Chaves. Em busca da própria identidade na diáspora afro-brasileira de Paris, ele está prestes a atravessar a fronteira do masculino e do feminino, entre o sagrado e o profano. Onde: Cinesystem Frei Caneca 3, sábado, 17h10
SHIKUN, de Amos Gitaï (Israel): Um diálogo cinematográfico entre o diretor de "Kedma" (2002) e a peça teatral "O Rinoceronte" (1959), de Eugène Ionesco (1909-1994). Sua trama companha situações absurdas de 20 personagens num prédio israelense. A atriz Irène Jacob interpreta a figura mais iracunda do tal prédio. Onde: Cinesystem Frei Caneca, domingo, 13h
SAMIA, de Yasemia Samdereli (Itália): Dirigido pela atriz e cineasta alemã (de origem curda) responsável por "The Night of All Nights" (2018), este longa ganhou menção honrosa no Festival de Tribeca, em Nova York. Sua protagonista, Samia (llham Mohamed Osman) desafia tabus correndo pelas ruas de Mogadíscio, capital da Somália, em uma sociedade na qual uma mulher não pode correr. Sua obstinação um dia a levará às Olimpíadas. A trama é baseada no best-seller "Don't Tell Me You're Afraid", de Giuseppe Catozzella, que narra a história real de Samia Yusuf Omar, uma jovem atleta somali. Onde: Espaço Augusta 4, domingo, 13h30
UMA TERRA DEIXADA PARA TRÁS ("Nei Sha"), de Yang Yishu (China): Conhecida pelos longas "Who Is Haoran" (2006) e "One Summer" (2014), a realizadora do tocante "Lush Reeds" (2018) regressa às telas com um drama filmado numa pequena ilha formada pelo acúmulo de areias flutuantes do rio Yangtze, onde seu protagonista, Tang administra uma fazenda orgânica. Todos esses anos de trabalho, no entanto, fizeram com que ele lidasse frequentemente com dificuldades e fracassos. Paralelamente uma sofrida mãe, que vive reclusa nas montanhas, sai do isolamento para passar alguns dias com a filha, Xiao Yu, que trabalha nessa mesma propriedade. Juntas, essas pessoas vão viver uma ciranda afetiva. Onde: Cinesystem Frei Caneca 5, domingo, 17h40
ZAFARI, de Mariana Rondón (Peru): Regresso às telas da realizadora venezuelana premiada a mundialmente por "Pelo Malo" (2013). Sua nova trama é uma narrativa cheia de estranheza que explora a tensão de um condomínio pobre para onde um hipopótamo é levado num momento de escassez de água para banho, onde um morador já idoso gasta o pouco de forças que tem roendo um bife cheio de nervos. Onde: Espaço Augusta 2, Domingo, 20h10
AMIZADE, de Cao Guimarães (Brasil): Um dos mais inquietos artistas visuais do país costura uma colcha de retalhos audiovisuais, de diferentes matrizes (de película em super-8 a fitas K7, passando por registros de telas de computador), cuja linha de aproximação é a saudade dos artistas com quem travou conexões ao longo de três décadas. Onde: Reserva Cultural 2, Domingo, 21h40