Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Sushi da despedida na Mostra de SP

Nem a morte pode separar o casal de 'Super Feliz Para Sempre', destaque desta quinta na Mostra de SP | Foto: Divulgação

Um dos temas mais recorrentes do cinema internacional em 2024 (vide "O Quarto ao Lado", de Almodóvar), a relação com a finitude frequentou o garimpo de todos os grandes festivais do mundo ano (Cannes, Veneza, Berlim) e bate ponto agora na Mostra de São Paulo, pelas vias de uma delicada expressão narrativa japonesa: "Super Feliz Para Sempre". Tem sessão dele no Cinesystem Frei Caneca, hoje à noite, às 20h30.

É um drama com toques líricos sobre como se faz as pazes com uma perda. A produção, chamada "Super Happy Forever" no exterior, chega a telas paulistanas vitaminada por uma aclamada recepção que teve em San Sebastián, no norte da Espanha, no mês passado. Tem mais uma projeção do longa-metragem no Brasil no próximo dia 29, às 18h30, no Cinesystem Frei Caneca 5.

Recentes investimentos autorais da diretora Naomi Kawase (de "Esplendor") mantiveram o lirismo romântico bem aquecido no audiovisual nipônico, mas não ao ponto de fervura que seu conterrâneo Kohei Igarashi alcança com "Super Feliz Para Sempre", que trata do tema da melancolia sob uma mirada doce, inspirada por love stories clássicas, asiáticas e americanas.

"Apesar de o romance ser um gênero um tanto fora de moda hoje, eu tenho apreço por seus códigos e por sua forma de encarar as relações interpessoais e entender a dinâmica de perder alguém. Nem sempre uma pessoa que se vai desaparece do nosso convívio. Ela está entre nós de formas novas, diferentes do que esperamos", disse Igarashi ao Correio da Manhã no Festival de San Sebastián. "Passamos antes da Espanha por Veneza e vamos ainda a festivais na Coreia, nos EUA e no Canadá, com essa parada no Brasil. Tento levar às telas imagens de um espaço geográfico, os resorts luxuosos de outrora, que servem como registro sentimental de um Japão do pós-guerra, de uma fase de reconstrução do meu país".

Seu enredo se passa num resort onde, um dia, o jovem Sano foi muito feliz com sua finada mulher, Nagi. A nostalgia dessa época já seria motivo suficiente para ele regressar, mas há um motivo extra: sair em busca de um chapéu vermelho que sua companheira perdeu lá.

"Na sociedade japonesa, não lidamos com a perda de uma forma definitiva, pois há sempre resquícios de quem partiu a sobreviver na memória e no tempo. Eu tento partir desses vestígios para abrir uma discussão sobre o que é tristeza e sobre como a dor se acomoda. O conceito japonês de 'relato triste' é muito fluido", diz Igarashi ao Correio. "O colorido do filme lida com contraste, acentuando o azul do mar. Esse contraste é um reflexo da vida".