Dona de uma escrita fina, capaz de apontar os sintomas de exclusão do cinema feito hoje, Luciana Costa explica ao Correio da Manhã o simbolismo por trás de sua seleção de divas.
O que o coletivo de estrelas selecionado por você para o livro simboliza acerca da cultura do star system e da representatividade feminina no imaginário pop das telas?
Luciana Costa: Cada uma dessas atrizes foi escolhida a dedo justamente para mostrar suas reais personalidades, diferenças, semelhanças e retratar como eram moldadas pelo star system pra caberem no estereótipo em que os estúdios Hollywoodianos queriam encaixá-las. Eu quis focar principalmente no etarismo. Muitas atrizes maravilhosas eram descartadas pela indústria porque já não eram mais tão jovens. Algumas eram reaproveitadas com personagens de bruxas ou loucas, e muitas outras simplesmente caiam em ostracismo
Que parâmetros você usou para a escolha dessas atrizes e o que elas deixam de mais singular, como legado, para a construção de um imaginário cinéfilo?
Muitos pesquisadores fazem recortes da divas. Algumas estão em todas as listas, como Audrey Hepburn, Rita Hayworth e Marilyn Monroe. Eu foquei em protagonistas que tiveram o auge de suas carreiras na chamada Era de Ouro de Hollywood (entre os anos 1920 e 30) e os anos 1960 e que entraram para o imaginário popular e trouxeram algo novo, criaram algum estilo novo de interpretação ou imagem feminina. Vocês conseguem ver no livro os nomes mais óbvios e algumas surpresas.
De que maneira a mostra no Estação conversa com o livro e expande o debate que você levanta?
O livro conta com três filmes protagonizados por cada diva para representar momentos diferentes em suas carreiras. Na mostra, foi selecionado um desses três filmes (por atriz) e nós tentamos colocar os que foram menos exibidos aqui no Brasil. Tentamos sair um pouco do óbvio para que o público tenha a chance de conhecer algo que não teve oportunidade de ver, ou teve poucas oportunidades
De que maneira Barbara Eden, de "Jeannie é um Gênio" ("I Dream of Jeannie"), objeto do seu livro anterior, poderia ser simbolicamente associada a essas divas? De que maneira esse conceito de diva poderia se ampliar para os domínios da TV, das séries?
Interessante mencionar. Em 1957, Barbara protagonizou uma série pouco conhecida que era um remake de "Como Agarrar um Milionário", de 1953, protagonizado por Lauren Baccal, Marilyn Monroe e Betty Grable. Outro ponto interessante é que a Bárbara entrou para o imaginário popular como uma mulher lindíssima dentro dos padrões da época, mas quando chegou aos estúdios de Hollywood, disseram que ela não era bonita o bastante para ser estrela. Tanto as mulheres do livro "Divas" quanto a Barbara Eden em "Jeannie" foram marcadas por personagens. A ideia por trás dos meus livros é resgatar suas personalidades, suas histórias e suas trajetórias. Nenhuma mulher é apenas um frame!
Quem seriam as divas de hoje, do presente, que agitam o cinema na contemporaneidade?
Quando eu penso nisso, o primeiro nome que me vem à mente é Viola Davis. Uma atriz espetacular, que já passou e ainda passa por vários personagens diferentes, tem personalidade, defende causas e trabalha também como produtora, além de ser bonita, exuberante e ter muita presença. Poderia ainda pensar em outras como Lady Gaga, Madonna, Margot Robbie, Angela Basset, Meryl Streep, Gal Gadot... mas, com certeza, minha primeira opção seria Viola.
Qual foi a primeira estrela de Hollywood que fascinou seu olhar durante a sua formação cinéfila?
O primeiro filme que me fascinou na vida foi "O Mágico de Oz". Vi quando tinha 5 anos e fiquei obcecada. Então acho que se pode dizer que foi Judy Garland, com seus sapatos vermelhos.