Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

São Jorge, o santo guerreiro, contra o dragão do preconceito

Machafer estrela, dirige e produz a saga de São Jorge nas telas | Foto: Divulgação

Filão inusitado em nossas telas, o épico capa & espada, com batalhas monumentais e efeitos visuais, ganha contornos brasileiros com "Jorge da Capadócia", filme sobre o Santo Guerreiro produzido, dirigido e estrelado por Alexandre Machafer. É um "Game of Thrones" do Brasil.

Na produção distribuída pela Paris Filmes, somos levados a 303 D. C. Naquela data, após ter vencido mais uma grande batalha, Jorge é condecorado como novo capitão do exército, quando o Imperador Diocleciano inicia sua última grande perseguição aos cristãos no império romano.

Diante das cruéis ordenações impostas ao povo e a pressão para que se rendam aos deuses cultuados no império, Jorge se vê diante de seu maior desafio: ser fiel à sua fé e as suas convicções ou sucumbir às ordens do imperador Diocleciano. O roteiro é impecável e abre uma série de deixas para combates frenéticos, dirigidos com eficácia.

Na entrevista a seguir, Machafer explica o projeto.


Que dimensão heroica existe na figura de Jorge e o que te impele a explorar seu simbolismo?

Alexandre Machafer: A gente olha pra a imagem de um cara ali matando o dragão, em cima de um cavalo, e ela realmente traz uma força e um heroísmo muito presente e muito latente, que chama a atenção de todo mundo. Com o filme, a gente tenta desvendar e desmistificar a história do Jorge. Quem foi esse cara? Quem foi esse guerreiro romano que se tornou essa figura emblemática e tão forte em mais de 35 países? Ele é patrono em pelo menos seis países. Tem um lugar especial na figura desse santo católico, que representa um sincretismo tão forte aqui no Brasil também. No filme, a gente decidiu ir para um lugar mais humano, que aproxime mais o ser humano da dor do Jorge, aproxime a dor dele da nossa dor. A gente pensou no dragão, mas entra como simbolismo, não como personagem. São os nossos dragões internos, principalmente, mas também os dragões externos. Contudo, esses que estão na nossa cabeça, dentro da gente, são o inimigo contra o qual a gente tem que lutar diariamente.

Qual é dimensão épica do filme e qual é o limite de se investir no filão histórico/religioso no cinema brasileiro? Que preconceitos cercam o investimento nacional no gênero?

O filme realmente tem uma dimensão épica muito grande, muito forte. É um filme brasileiro feito por profissionais incríveis aqui no Brasil. O dragão foi feito aqui. Demorou muito porque é um filme de baixo orçamento. A gente não contou com recursos de investimento altíssimo como se tem em Hollywood, como se tem nos grandes streamings, mas eu acredito que a gente agora se torna uma referência mundial fazendo um épico. É o primeiro filme de São Jorge a ser contado no mundo. A gente está tendo um feedback muito impressionante das pessoas por conta dessa mensagem desse guerreiro. Eu acredito que seja uma virada bem produtiva, bem interessante para o cinema nacional. Mas ainda tem um preconceito acerca dessas produções. Mas Jorge, como venceu várias barreiras, vai vencer mais essa também. A gente fez um filme de fé. É um filme de fé e devoção para qualquer ser humano que possa assistir, independentemente da sua religião. "Eu quero ver o dragão"... isso vai estar lá no filme. "Eu quero entender o que esse cara passou, como foi esse martírio"; "quero entender como é que é contada a história dele"... tudo está lá. A gente acaba pesquisando sobre esses assuntos muito em livros, mas agora a gente vê na tela do cinema.

O que o sucesso o filme pode abrir de prerrogativa para o cinema brasileiro?

"Jorge da Capadócia" abre portas para um novo olhar para o cinema nacional, para a gente acreditar que é possível produzir também filmes épicos com qualidade, despertando o interesse das pessoas. Estão comparando nosso dragão com "Game of Thrones", mas a gente não tem a verba. Lá fora, o dinheiro que eles colocam nesse universo hollywoodiano é imenso, mas a gente tem criatividade. O brasileiro não desiste nunca, quando aperta o calo, ele se reinventa. Eu acredito que o cinema nacional merece contar essa história. A gente precisa mostrar que é capaz, e temos esse orgulho de que o primeiro filme no mundo a contar a história de São Jorge é brasileiro é falado em português e feito na Capadócia. É um carioquês, mas tem a alma de todo mundo ali para contar essa história incrível de São Jorge.

Como se deram as filmagens? Onde foram realizadas e quanto tempo duraram?

A gente começou com uma pré-produção bem intensa. Foram quase cinco semanas de filmagem. Filmamos no Rio de Janeiro, em Niterói e na Capadócia, o que realmente trouxe muita força para o filme. Com os efeitos de rotoscopia, é difícil realmente você olhar e falar que é filmado no Brasil. A gente faz o que Hollywood sempre faz, mas sem dinheiro. O profissional brasileiro está de parabéns.