Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Thriller banhado em prata

Em 'Phenomena', Jennifer Connelly é uma paranormal que conversa com insetos | Foto: Divulgação

 

É com empolgação que o maior mestre do terror da Itália, filho da fotografa brasileira Elda Luxardo, recebe a notícia de que "Phenomena" (1985), um dos xodós de sua obra, terá uma exibição no Rio de Janeiro nesta Sexta-Feira da Paixão: a madrugada cinéfila do Estação NET Botafogo é de Dario Argento.

"Esse é o meu filme que mais conversa com a juventude, o que me dá muito orgulho, pois eu tive momentos muito felizes no trabalho com sua protagonista, uma Jennifer Connelly ainda menina, que já demonstrava imensa maturidade no set. Ganhou um Oscar anos depois, por méritos próprios. Eu me alegro que o Rio, onde tenho sobrinhos e primos, possa contemplar a ideia de cinema de horror que construí ao longo dos anos, sob um olhar da psicanálise", diz Argento em entrevista por telefone com o Correio da Manhã, de Roma.

Seu currículo é cravejado de sucessos (e cults), como "Um Vulto na Escuridão" (1998); "Terror na Ópera" (1987); "Tenebre" (1982); "Suspiria" (1977); e "O Pássaro das Plumas de Cristal" (1970), que o Estação NET Rio vai exibir no dia 6, na Maratona do Pijama.

"Suspeito de que minha filmografia sempre se debruçou sobre forças que invadem vidas alheias, rompendo uma lógica de sanidade e gerando perigo", diz Argento.

Rodado em Zurique e outras cidades suíças, sob um orçamento de US$ 3,8 milhões, o tenso "Phenomena" passa esta noite, às 23h59, na sessão de Clássicos à Meia-Noite do Estação. Na trama, Jennifer Corvino (papel de Connelly) é capaz de se comunicar com insetos e usa seus dons sobre-humanos para ajudar o inspetor Geiger (Patrick Bauchau) e seu aliado da Ciência, o entomologista Professor John McGregor (o brilhante Donald Pleasence), a caçar um assassino feminicida. Os códigos narrativos usados por Argento na trama correspondem à gramática do "giallo", um filão do horror à italiano, cheio de excessos (de luxo, em sua direção de arte, e de sangue), do qual o cineasta de 83 anos é o artesão maior.

"Terror é escavar as catacumbas da alma. O sobrenatural é o subterrâneo, é o que vive oculto em nós", disse Argento, que trabalhou com Bernardo Bertolucci (1941-2018), no fim dos anos 1960, na escrita do roteiro de "Era Uma Vez No Oeste" (1968), de Sergio Leone (1929-1989). "É curioso notar que as novas gerações ainda se mobilizam pela minha artesania e pelas figuras femininas que filmei, sempre buscando dar voz às mulheres".

Pai da atriz e cineasta Asia Argento, o veterano realizador lançou seu filme mais recente, o suspense "Olhos Negros", na Berlinale de 2022. "A pandemia foi o acontecimento que mais me assombrou nos últimos anos e eu tive que atrasar essas filmagens por conta do que acontecia com Roma em meio ao fantasma da covid-19. Sou um homem octogenário que se via recluso em casa, com a ameaça de uma doença que ceifava primeiramente vidas já anciãs. Aquilo é que é medo", lembrou Argento, que já está selecionando elenco para o novo longa-metragem que promete rodar nos próximos meses.

A França agora é seu foco. Mas não se trata de uma trama aterrorizante, mas, sim, um policial. "Vai ser um noir, como os polars franceses. Países como a Coreia do Sul têm feito incursões interessantes a esse formato de gênero. O México também tem estado nesse filão. Esses dois territórios têm dado a essa tradição cinematográfica um tom dramático que me interessa e que desperta o interesse de diretores como Guillermo Del Toro. Ele é um dos nomes que se exercitaram nessa via", diz Argento. "Ainda não tenho um título, mas tenho uma história e estou já fechando meu elenco".

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.