Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

França embarca em 'Nosso Sonho'

A luta de Claudinho (Lucas Penteado) e Buchecha (Juan Paiva) para vencerem na vida pela música é recriada com delicadeza no longa 'Nosso Sonho', xará de um hit da dupla que fez o Brasil cantar no início do século | Foto: João Atala/Divulgação

Na reta final de um exercício autoral (e antirracista) como diretor, chamado "Malês", Antônio Pitanga é o homenageado do 26° Festival de Cinema Brasileiro de Paris, com direito a espaço nobre no filme nacional de maior sucesso de público de 2023: "Nosso Sonho". Nesta quinta, ele será visto pelas plateias francesas do cine L'Arlequin no longa-metragem de Eduardo Albergaria sobre o fenômeno Claudinho e Buchecha.

Na mesma noite Pitanga aparece na mesma sala de projeção parisiense para falar de "Barravento" (1962), que fez com Glauber Rocha. Mas o que a França quer entender mesmo é o segredo por trás do sucesso da cinebiografia do duo funkeiro que parou o circuito exibidor aqui este país.

Com cerca de 522 mil ingressos vendidos em sua carreira comercial, "Nosso Sonho - A História de Claudinho e Buchecha" se estabeleceu como "A" bilheteria brasileira do ano passado. Hoje Albergaria vê seu nome se associar a um fenômeno popular que gruda em corações e mentes sobretudo no subúrbio. Tinha gente saindo pelo ladrão das sessões do Kinoplex Norte Shopping e do cinema de Madureira. Hoje, já é possível vê-lo via streaming, no Telecine Play e na Amazon Prime. Pitanga está na trupe central, no papel de Seu Américo.

Comovente do começo ao fim, sem ser excessivamente melosa um segundo que seja, a produção estreou no fim de setembro, apostando no carisma da dupla que ajudou a levar a alegria e a resiliência das periferias cariocas para a música. Desde então, segue em circuito.

À luz elegante da fotografia de João Atala, Lucas Penteado e Juan Paiva encarnam os bardos românticos por trás de "Só Love" e "Fico Assim Sem Você". Não por acaso, ao longo de uma carreira meteórica, interrompida pela morte de Claudinho (num acidente na Dutra, na altura de Seropédica, em 2002), os dois cantaram: "Nossa história vai virar cinema/ E a gente vai passar em Hollywood, mas/ Se ninguém gostar não tem problema/ Meu bem um grande amor/ Não há quem mude".

Fundador da produtora Urca Filmes, usina de séries e documentários, Albergaria despontou na direção com o curta-metragem "Achados e Perdidos" e estreou na direção de longas com uma trama romântica meio argentina, meio carioca, chamada "Happy Hour" (2018).

"Niteroiense de origem, sou do ingá, da rua Pereira Nunes, vizinho da faculdade de cinema da UFF, onde sonhava estudar até que Collor nos atravessou e fez este sonho parecer impossível. Adiei o cinema por alguns anos até que não aguentei mais. Estou com 50 anos", disse o cineasta ao Correio, à época do lançamento.

Katia Adler, diretora do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, agendou uma nova projeção de "Nosso Sonho" para sábado, com a presença de Pitanga no debate.

Nesta sexta, o L'Arlequin confere "Pérola", de Murilo Benício, que rendeu à atriz Drica Moraes um prêmio de interpretação no Fest Aruanda, na Paraíba, em 2022. No domingo, a França vai prestigiar "A Paixão Segundo GH", de Luiz Fernando Carvalho. Na segunda, rola projeção dos premiados "Mussum" e "Pedágio". O encerramento do festival será no dia 2.

 

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