Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA FILME - SAUDOSA MALOCA: Palhinha de Adoniran

Miklos foi premiado em Aruanda por seu desempenho | Foto: Divulgação

São muitos os vértices de excelência de "Saudosa Maloca", que rendeu a Pedro Serrano o troféu de Melhor Direção, no Fest Aruanda, na Paraíba, em dezembro. Sua dramaturgia fala de gentrificação numa São Paulo de arranha-céus a partir das travessias e das travessuras do compositor e cantor Adoniran Barbosa (1910-1982) e seus parceiros de birita e de batuque.

O desempenho de Paulo Miklos (também premiado em terras paraibanas) é imparável no retrato da realidade paulistana bem fotografada por Lito Mendes da Rocha. A produção forma um triunvirato autoralíssimo com dois outros belos trabalhos de Serrano: o curta "Dá Licença De Contar", de 2015, e o longa documental "Adoniran - Meu Nome É João Rubinato", de 2018.

Na trama de seu estonteante tratado sobre saudade, Serrano nos leva a uma mesa de bar de SP, onde o velho Adoniran (Miklos, sublime) conta a um jovem garçom (Sidney Santiago Kwanza) anedotas de uma metrópole que já não existe. Lembra com carinho da maloca onde viveu com Joca (Gustavo Machado) e Mato Grosso (Gero Camilo), destacando a paixão deles pela atendente de bar e aspirante a estilista Iracema (Leilah Moreno, luminosa em cena) e de outros personagens eternizados em seus sambas.

O filme mostra como as letras de Adoniran se tornaram crônicas de uma terra engolida pelo apetite voraz do "pogréssio". Diante da essência cartográfica do longa, a direção de arte de Claudia Terçarolli se impõe por seu detalhismo cuidadoso. 

 

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