Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Enquanto isso em Bergamo, vitória(s) do Brasil

Até Que a Música Pare | Foto: Divulgação

Coproduções com nações europeias, "Levante", de Lillah Halla, e "Até que a Música Pare", de Cristiane Oliveira, afirmaram a brasilidade e garantiram prêmios para o nosso país na disputa oficial do Bergamo Film Meeting, evento italiano que acaba de encerrar sua edição de número 42 propondo uma triagem das conexões audiovisuais do Velho Mundo.

Celebração do direito ao corpo, a partir do drama de uma jogadora de vôlei que engravida por deslize, o longa de Lillah ganhou a láurea de Melhor Filme. "Como o cinema tem espaços de poder, é importante mostrar que um objeto como esse filme tem força, na criação de espaços seguros", disse Lillah ao Correio da Manhã.

Egressa do Teatro e formada pela Escuela de San Antonio de Los Baños, em Cuba, Lillah assina a direção apoiada na força da atriz Ayomi Domenica Dias. Junto dela, e de um elenco em fina integração, ela constrói uma trama sobre os dilemas morais mais medievais do país, dissecados a partir do processo de uma jovem atleta que engravida sem desejar e opta por abortar. Mas vai enfrentar resistências por isso.

Já Cristiane conquistou o prêmio de Melhor Direção. Sua narrativa segue o casal Alfredo (Hugo Lorensatti) e Chiara (Cibele Tedesco), que, após o filho sair de casa para morar sozinho, começam a viajar juntos.

O júri era composto por Vaida Kazlauskaite, Paola Rayman e Michelangelo Frammartino, que distinguiram com menções honrosas "Some Birds" e "The Wall". Eram sete títulos na competição principal.

Em conversa com o Correio da Manhã, antes da abertura do festival, a curadora Annamaria Materazzini, reafirnou o foco do evento para além da cinematografia italiana. "O Bergamo Film Meeting sempre teve uma perspectiva internacional, quer seja na apresentação de novos cineastas autorais ou em retrospectivas. Esse perfil se impôs sobretudo nos seus primórdios, quando muitas cinematografias tinham dificuldade em encontrar visibilidade na Itália, em comparação com o cinema nacional e americano".

"Atualmente, a situação é mais equilibrada e é muito mais fácil ver filmes de todo o mundo nas salas de cinema. Não temos a pretensão de ter influenciado as tendências do cinema italiano, nem podemos dizer que nos concentramos mais no cinema do nosso país. No entanto, sempre demos espaço a novos autores, tanto italianos como de outros países. Isto permitiu, por vezes, que fizéssemos descobertas e dar voz a autores menos comerciais ou dar visibilidade a novas formas de linguagem cinematográfica", completa.

O evento prestou homenagens a realizadores como a dinamarquesa Frederikke Aspöck, o sueco Lukas Moodysson e o esloveno Metod Pevec. Em outras latitudes, sua equipe curatorial levou a suas plateias uma coletânea de animações portuguesas incluindo "Ice Merchants", de João Gonzalez; "A Sonolenta" e "Sopa Fria", de Marta Monteiro; "Agouro" e "Fuligem", da dupla Vasco Sá e David Doutel; "Elo", de Alexandra Ramires; e "O Homem do Lixo", "Água Mole" e "Três Semanas Em Dezembro", todos de Laura Gonçalves.

 

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