Por: Rodrigo Fonseca  | Especial para o Correio da Manhã

Todos os caminhos levam à Imovision

Dono da Imovision, o francês Jean Thomas Bernardini aposta no mercado brasileiro distribuindo filmes de grande valor artístico como 'Ervas Secas', 'Black Tea' e 'My Favourite Cake' | Foto: Divulgação

Indicado à Palma de Ouro de Cannes e coroado lá com o Prêmio de Melhor Atriz (dado à jovem Merve Dizdar), o (melo)drama turco "Ervas Secas", de Nuri Bilge Ceylan, traz ao Rio à grife da Imovision, distribuidora que se empapuçou no último Festival de Berlim, renovando o estoque de suas atrações de verve autoral para o ano todo. Ganhador do Prêmio da Crítica da Berlinale, "My Favourite Cake", uma love story irianiana, foi para o carrinho de compras de Jean Thomas Bernardini.

Exibidor e distribuidor, responsável pelo Reserva Cultural - o de SP, sua base de operações, e o de Niterói - e ator nas horas vagas (vide sua participação em "Fim de Festa"), ele trouxe ainda da Alemanha "Black Tea", do mauritano Abderrahmane Sissako; "Le Gens D'À Côté", do francês André Téchiné; e "The Visitir", do artesão queer canadense Bruce La Bruce. A cestinha de Bernardini ainda teve lugar para "Um Silêncio", do belga Joachim Lafosse, indicado à Concha de Ouro lá em setembro, no Festival de San Sebastián. Todo evento desse naipe ou do quilate da maratona germânica conta com o olhar do francês que adotou São Paulo como lar e ponto de irradiação de sua estética de ocupação - de salas e de olhares.

"O resultado comercial, em circuito brasileiro, de um filme que chega de um grande festival depende muito do prêmio que ele ganhou lá fora ou da exposição que teve. Até o tamanho do festival conta. Um ganhador de Palma de Ouro, de Leão de Ouro ou de Urso de Ouro faz muita diferença no olhar do público, mas a grande questão desses eventos é a oportunidade de se negociar projetos ainda em pós-produção", diz Jean Thomas, que mantém ainda um braço (obrigatório) no streaming: a plataforma digital Reserva Imovision. "Lá, entre os quase 500 filmes que temos, eu somo cerca de 2,5 mil prêmios".

É ele quem vai lançar por aqui o ganhador do César de Melhor Filme Estrangeiro de 2024, A Natureza do Amor" ("Simple Comme Sylvain", de Monia Chokri, egresso do Canadá. Trata-se de um estudo avassalador sobre a incontinência do amor a partir das inércias que o prejudicam. Uma professora de Filosofia (Magali Lepine-Blondeau) passou dez anos mornos, mas, fiéis, ao lado de um namorado socialmente perfeito para seu status. Mas o convívio súbito dela com um pedreiro faz-tudo vai mudar sua forma de saber querer e de se deixar cuidar. Ainda do Canadá vem "Testamento", de Denys Arcand (de "As Invasões Bárbaras"). O cinema brasileiro por meio de "O Mensageiro", de Lucia Murat. "Venho lançando todos os filmes dela, com orgulho, pois é uma grande cineasta e uma grande parceira do cinema que eu acredito", diz Jean Thomas, que lança ainda este ano "O Mal Não Existe", do japonês Ryuskue Hamaguchi (de "Drive My Car"), que ganhou o Grande Prêmio do Júri de Veneza, em 2023.

Filé da Imovision, o cinema vindo de Paris, Marselha, Nice e arredores comparece uma vez mais na lista da distribuidora por meio da diva Isabelle Huppert, estrela de "Sidonie no Japão". "L'Abbé Pierre" também será lançado nesse pacote da companhia.

"Não somos representantes oficiais da França no Brasil, mas eu venho de lá e o cinema francês continua sendo o número dois do mundo, em volume de produção. Hoje, o trabalho dedicado da Unifrance (órgão governamental europeu que garante a difusão de títulos francófonos em salas de projeção do mundo e na streaminguesfera) faz diferença no trânsito dessas produções e eu tive boas experiências com muitas", diz Jean Thomas, que segue exibindo o ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original deste ano (e da Palma dourada do ano passado), "Anatomia de uma Queda", em seu multiplex de terras niteroienses. "Filmes como "Oito Mulheres", de François Ozon, fizeram sucesso enorme no Brasil. Mas eu comecei meus trabalhos aqui no Brasil pelo Irã, com 'O Balão Branco', nos anos 1990. Ele somou 180 mil pagantes por aqui, só com três cópias em 35mm. Mesmo quando já estavam todas riscadas, muitos exibidores as queriam, dizendo que o filme funcionava. Por isso, o cinema iraniano está sempre no meu escopo. Ele não sai de moda".

 

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