Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

E o César vai para...

Cillian Murphy encarna J. Robert Oppenheimer sob a direção de Christopher Nolan | Foto: Divulgação

 

Coprodutora de alguns dos mais potentes concorrentes ao Urso de Ouro de 2024, sobretudo o senegalês -beninense "Dahomey", a França afirmou a elegância de sua filmografia tão diversa nas telas de Berlim por joias confessionais como "Hors Du Temps", de Olivier Assayas, e o thriller "Le Gens Á Côté", de André Téchiné, ambos mestres, com décadas de trajetória.

Um time mais moço, com destaque para Jérémy Clapin, também se fez notar, graças a pepitas do naipe de "Pendant Ce Temps Sur Terre". Esta noite, Berlim volta a esticar seu pescoço para espiar as ousadias do audiovisual francófoono não em suas próprias telas, mas, sim, por meio das notícias sobre os resultados da entrega do troféu César. Parte da reverência germânica (e de todo o planisfério cinéfilo, na real) a esse Oscar à francesa, entregue desde 1976 pela Académie des Arts et Techniques du Cinéma (nos moldes da Academia de Hollywood), vem da presença do mestre alemão Wim Wenders entre os concorrentes. Seu novo exercício autoral, "Dias Perfeitos", já em circuito no Brasil, está concorrendo como Melhor Filme Estrangeiro.

Muitos medalhões das telas estão no páreo do César, um troféu de bronze estimado em cerca de € 1,5 mil, batizado com o nome de seu escultor, César Baldaccini (1921-1998), artesão do Nouveau Réalisme europeu. A festa de entrega da honraria acontece no auditório Olympia, em Paris, com a atriz e diretora Valérie Lemercier no comando das atividades. Celebridades que se fizeram famosas graças aos filmes gestados na pátria de François Truffaut vão estar lá, como Ariane Ascaride, Bérénice Bejo, Juliette Binoche, Benoît Magimel, Jean-Pascal Zadi e Dany Boon. Encenada muitas vezes nos palcos do Rio, a dramaturga Agnès Jaoui, que também é atriz e diretora, ganha um dos Césares de Honra do ano. O outro será confiado ao diretor britânico Christopher Nolan. O inglês é o favorito absoluto ao Oscar de 2024 com "Oppenheimer", que, apesar da homenagem a seu realizador, também está em concurso, e é maior adversário de Wenders na categoria dos longas rodados em línguas diferentes do idioma de Balzac.

Apesar de o filme com mais indicações ser a distopia "Le Règne Animal", de Thomas Cailley, o potencial ganhador da noite é "Anatomia de uma Queda", que deu a Justine Triet a Palma de Ouro de Cannes, o Globo de Ouro de Hollywood e cinco indicações ao Oscar. Já em exibição nas telas cariocas, o longa aborda a batalha judicial de uma escritora (Sandra Hüller) para provar sua inocência na acusação de ter matado seu marido.

Entre todos os indicados, destaca-se um desenho, que rouba holofotes por onde passa por sua dimensão antropológica: "Frango Para Linda!" ("Linda Veut Du Poulet!), de Chiara Malta e Sébastien Laudenbach: Foi o ganhador do troféu Cristal de Annecy, maior festival de animação do mundo. Em sua trama, Linda é injustamente punida pela mãe, Paulette, que fará tudo o que estiver ao seu alcance para recompensar a garota. Até um frango com pimenta, apesar de não saber cozinhar. Paulette e a filha então partem em uma jornada por toda a vizinhança para encontrar o ingrediente; mas onde comprar frango durante uma greve geral?

Ao mesmo tempo em que o César estiver sendo entregue em terras parisienses, um dos mais importantes artesões das narrativas documentais da França vai estar falando da força estética de seu país: Nicolas Philibert. Ganhador do Urso de Ouro de 2023 com "No Adamant", ele regressa à Alemanha com "Averroès & Rosa Parks", que integra a seção paralela Berlinale Special com forte chance de sair dela com o Prêmio de Melhor Documentário. É um estudo sobre o tratamento psiquiátrico no Velho Mundo.

 

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