Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Turquia em 'autofricção'

'Faruk' é um retrato afetivo de um pai por sua filha, sob a direção de Asli Özge | Foto: Divulgação

 Agraciado com o Urso de Ouro da Berlinale em 1964, por "Verão Seco", de Metin Erksan, e em 2010, por "Um Doce Olhar", de Semih Kaplanoglu, o cinema turco volta a se destacar nas telas da maratona cinéfila alemã por outras vias, a mostra Panorama, pelas vias de uma ficção com tintas documentais (também definido como um documentário com fabulações) chamado "Faruk".

A direção é da cineasta Asli Özge, hoje radicada em solo alemão, mas egressa de uma Turquia em fase de gentrificação em sua estrutura arquitetônica citadina.

Na raia da autoficção, o painel de conflitos geracionais estruturado pela cineasta em Istambul parte de um exercício de observação, com ares fabulares, do dia a dia de seu pai, um nonagenário que esbanja carisma. Mas suas atitudes por vezes conservadoras refletem incongruências culturais não só dele, mas de toda uma nação.

"No início do projeto, pensei em fazer um documentário, mas, além da distância imposta por eu viver na Alemanha, havia o problema de que eu não poderia controlar os diálogos do meu pai. Percebi ali que o cinema que me interessava não era o do controle da vida, mas, pelo contrário, o do entendimento, construído pelas vias da ficção", disse Asli Özge ao Correio da manhã, ao falar de sequências nas quais acompanha as digressões bem-humoradas de Faruk, sua figura paterna amorosa, ainda que rígida, em certas ocasiões.

"Na idade em que está, depois de chegar aos 90, ele tem todo o tempo do mundo. Ele passa a entender o passo das horas sob uma nova experimentação. É esse tempo, da liberdade, que me interessa", comenta a realizadora.

Ainda no Panorama, a Turquia esbanja viço audiovisual na Berlinale com 'Crossing", de Lavan Akin, que abre um debate transfobia a partia da conexão ideológica o entre uma professora aposentada e uma advogada. Uma jovem trans une nas duas neste drama de montagem febril.

A Berlinale 2024 termina neste domingo, quando conhecerá os ganhadores dos prêmios do júri popular da Panorama. No sábado, serão conhecidas as escolhas do júri oficial, presidido pela atriz queniana Lupita Nyong'o.

 

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