Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Fantasmas senegaleses

Ben Mahmoud Mbow busca um novo sentido para a vida de seu personagem | Foto: Mbar Diop/Divulgação

Nações africanas nunca tiveram tanto destaque na Berlinale, em anos recentes, como se vê na edição nº 74 do evento, tanto na competição (via Benin com "Dahomey" e via Mauritânia, com "Black Tea"), quanto em mostras paralelas como o Fórum, onde Moçambique reina sobreano com "As Noites Ainda Cheiram A Pólvora".

Na seção Encontros, disputa de prêmios inaugurada pelo festival em 2020, um longa senegalês chamado "Demba" arrebata fãs com a suavidade com que o cineasta Mamadou Dia mescla afetos familiares com sombras políticas de chagas coloniais. Na trama, com elementos fantasmagóricos, Demba (Bem Mahmoud Mbow) está às vias de se aposentar e busca mudar sua rotina, a fim de cicatrizar a dor da morte da mulher com que viveu por anos a fio. Mas a necessidade de reinventar sua relação com seu filho vai trazer fantasmas á tona.

"Hollywoo atraiu a atenção do mundo para a África, com "Pantera Negra", mas o faz e o faz só falando de reis e rainha, deixando de lado os aspectos da vida cotidiana, como o enfretamento do luto", disse Dia ao Correio da Manhã, em Berlim.

Um dos principais adversários de Dia, na Encontros, é o longa brasileiro "Cidade; Campo", de Juliana Rojas, que arranca inspiradas atuações de Bruna Linzmeyer, Mirella Façanha e Fernanda Vianna numa trama bifurcada sobre mulheres em trânsito. A montagem é de um rigor surpreendente.

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