Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

A toca do Urso de Ouro

Love Lies Bleeding | Foto: Divulgação

 

Desde o início da maratona cinéfila alemã deste ano, na quinta-feira passada, há um filme de DNA mexicano (embora seja ambientado nos EUA) que não sai da lista de apostas da disputa pelo Urso de Ouro de 2024: "La Cocina", de Alonso Ruizpalacios. É um frenético mergulho nos bastidores da cozinha de um restaurante da moda onde o tempero mais concorrido é a mstura de cidadanias, num retrato da imigração. Fala-se um bocado também sobre o refinamento do documentário de matriz africana "Dahomey", da franco-senegalesa Mati Diop. Mas há um amplo cardápio de expressões audiovisuais ousadas nas outras latitudes da Berlinale, que segue até domingo. Confira alguns achados do evento:

ABOVE THE DUST, de Wang Xiaoshuai (China): Eis "O" filme da maratona cinéfila germânica deste ano. Mas ele acabou na mostra Generation (de orientação infantojuvenil) por se debruçar sobre o que se passa na cabeça de um menino de 10 anos. Na trama, o pequeno Wo Tu sonha ter uma pistola d'água num campo de trabalhadores que sofre um processo de desapropriação de bens pelo estado. O desejo do garoto vai levá-lo a exóticas ações.

FARUK, de Asli Özge (Turquia): Nas raias da autoficção, este painel de conflitos geracionais em Istambul parte de um exercício de observação, com ares fabulares, feito pela cineasta a partir do dia a dia de seu pai, um nonagenário que esbanja carisma.

TREASURE, de Julia von Heinz (EUA): Eleito "o filme fofo" desta Berlinale tão inflamada de temas políticos, esta dramédia põe a atriz e roteirista de "Girls", Lena Dunham, ao lado de um mito queer da cultura pop: Stephen Fry. Eles vivem filha e pai num road movie que se passa em 1991, data na qual a jornalista Ruth (Lena) leva seu pai, o imigrante judeu polonês Edek (Fry, sublime em cena), a um passeio por sua terra natal. Mas ela vai incluir campos de concentração no pacote, o que leva Edek, a lembrar da dor vivida por seu povo na mão dos nazistas. O tema é bem áspero. O longa, não.

À QUAND L'AFRIQUE?, de David-Pierre Fila (Congo/ Angola): Atabaques se inflamam na evocação dr mitologias e histórias reais de povos de áreas rurais do Congo diante do irrefreável avanço da gentrifiação e do desmatamento. No filme, ritos que passam pela percussão abrem uma reflexão geopolítica com foco ecológico.

LES GENS D'À CÔTÉ, de André Téchiné (França): Neste elegante suspense, a onipresente diva Isabelle Huppert empresta seu talento ao mestre europeu na saga de uma policial que se afeiçoa por seus novos vizinhos até entrar em dilema ao descobrir que um deles tem um passado de crimes.

MEMORIAS DE UN CUERPO QUE ARDE, de Antonella Sudassi Furniss (Costa Rica): Uma vez que o assunto mais recorrente desta Berlinale é a vida depois dos 60, com a chegada da vehice, nada mais adequado para o cinema hispano-americano renovar sua força estética do que um painel experimental sobre três mulheres que se assumem idosas: Ana (68 anos), Patrícia (69) e Mayela (71). Elas falam de seus desejos e de seus medos.

LOVE LIES BLEEDING, de Rose Glass (EUA): Uma analogia com "Thelma & Louise" (1992) ajuda a fazer deste thriller beeem sanguinolento um cult na grade da mostra Berlinale Special. Kristen Stewart vive uma gerente de academia de ginástica que se apaixona por uma fisiculturista (Katy O'Brien), que perde o juízo e o senso de brutalidade por amor e pelo uso abusivo de esteróides, que mudam seu corpo.

 

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