Sem levar fé no refrão de "Don't Worry About A Thing", a esperada cinebiografia do messias do reggae Robert Nesta Marley (1945-1981) não embarcou na leveza pregada pelo músico que usou seu canto para desafiar a brutalidade da guerra civil na Jamaica e reduziu sua cruzada (de filosofia e fé) num panfleto político. Pior: um panfleto de marola pesada, sem a catarse que se espera de um filão quase infalível, a biopic musical.
"Bob Marley: One Love" é bom como aula de Sociologia e como tratado geográfico, recorrendo à noção econômica hoje pouco citada de Terceiro Mundo para explicar o contexto histórico por trás das atitudes de seu biografado.
Sua fraqueza está na inabilidade de explorar o âmago afetivo (e mesmo existencial) do rei do reggae, que se resume a um discurso combativo na interpretação nada viçosa do inglês Kingsley Ben-Adir, o vilão da série "Invasão Secreta", da Marvel.
A iluminação nada dionisíaca, quase bruxuleante, proposta pelo fotógrafo Robert Elswit, a fim de alimentar um tom intimista, emperra o que se espera de "espetáculo" do novo filme de Reinaldo Marcus Green, realizador de "King Richard: Criando Campeãs" (2021).
Personagens satélites da vida de Marley se achatam no roteiro, que se concentra entre 1976 e 1978, reconstituindo a fase de um atentado vivido pelo cantor e compositor, seu êxodo para a Europa e seu regresso para um show doutrinador no credo do humanismo.
Quem se destaca em cena é Lashana Lynch, no papel de Rita Marley, parceira de vida e de palco do bardo por trás de "Redemption Song".