Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Uma tela para De Palma

Aos 83 anos, Brian De Palma perdeu espaço no circuito tanto que 'Dominó', seu trabalho mais recente, permanece sem tela desde 2019 | Foto: Divulgação

Citado como referência por Quentin Tarantino e aclamado por cineastas pop europeus como Nicolas Winding Refn e François Ozon, Brian Russell De Palma chegou à marca de cinco anos de invisibilidade aos olhos da indústria audiovisual. Nenhum dos projetos de longa-metragem que estavam associados a seu nome saiu do papel, entre eles um thriller potencialmente reservado para Wagner Moura, chamado "Sweet Vengeance".

O pior: o último trabalho do octogenário realizador segue estacionado desde 2019 na fila de filmes sem tela no Brasil. "Dominó", que foi seu longa mais recente, passou na Europa em raros espaços e não teve circuito nestas bandas. Protagonizado pelo ótimo Nikolaj Coster-Waldau, no papel de um policial em busca de vingança, o thriller "Dominó" aguarda estreia em vários territórios, confirmando uma maldição que se abateu sobre seu realizador. Nos EUA, ele passou batido, prejudicado por uma série de problemas de produção. Nos bastidores, fala-se em calote, que nem De Palma nem os atores foram remunerados como deveriam. Seu fracasso acabou prejudicando projetos posteriores do midas do suspense da Nova Hollywood, como "Catch and Kill", escrito para seu amigo Al Pacino, e "Predator", sobre o escândalo Harvey Weistein.

Responsável por garantir ao diretor (hoje com 83 anos) uma indicação ao Leão de Ouro, em 2012, o suspense "Paixão" ("Passion"), com Noomi Rapace e Rachel McAdams, permanece, também zero km em nosso circuitão. Nem streamings como a MUBI conseguiram trazê-lo.

Exibido no Festival de Rio de 2008, "Guerra Sem Cortes" ("Redacted"), um libelo contra a intervenção militar de Bush no Iraque, teve melhor sorte e foi pra grade do www.mubi.com. O longa deu a De Palma o prêmio de Melhor Direção em Veneza, na Itália. "Dália Negra", seu último sucesso, lançado em 2006, também sumiu das telas, mas hoje pode ser acessado na Amazon Prime. O que teria expelido um cineasta desse naipe do circuito? Cineasta com 63 anos de carreira.

Nascido em 11 de setembro de 1940, em Newark, Nova Jersey, De Palma estudou Física até estrear como realizador, em 1960, ao rodar o curta-metragem "Icarus". Filho de um cirurgião, a quem acompanhou em muitas operações, De Palma rodou 35 filmes nas últimas cinco décadas. Dirigiu sete curtas entre 1960 e 1966, além de um videoclipe para Bruce Springsteen, desenvolvido a partir da canção "Dancing In The Dark".

Na seara dos longas-metragens, contabiliza 31 produções, rodadas entre 1968 - quando debutou no formato, com "Murder à La mod" - e 2019 - quando "Dominó" entrou em cartaz, ficando em evidência apenas em Israel e na Hungria. Avaliando-se tudo de bom que o diretor assinou, "Dublê de corpo" (1984), "Scarface" (1983) e "Carrie, a estranha" (1976) são considerados obras-primas em sua carreira, cujos maiores êxitos comerciais foram projetos de "encomenda". Seus blockbusters: "Os Intocáveis" (1987), cujo faturamento beirou US$ 76,2 milhões, e "Missão: Impossível" (2006), que registrou uma arrecadação mundial de US$ 456,7 milhões.

Controverso por excelência, classificado como misógino e voyeurista, De Palma foi, durante décadas, classificado como um pastichador de Alfred Hitchcock, até que uma retrospectiva realizada em 2002 no Centre Pompidou recontextualizou sua filmografia, buscando uma identidade autoral própria para além de suas referências. Em 2007, quando lançou "Guerra sem cortes" no Lido, usando elementos da linguagem digital retirados do YouTube, o cineasta declarou: "Hitchcock é o maior mestre da arte contar histórias a partir de imagens e se eu uso alguma referência de sua gramática esses elementos complexificam o que eu conto. Mas acho que hoje, após quase 50 anos como diretor, eu já tenho meus próprios métodos configurando um estilo".

 

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