Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Excelência brasileira em terras canadenses

Vermelho Monet | Foto: Divulgação

Mobilizando plateias pelo mundo afora com "BlackBerry", o Canadá vai receber uma fornada de longas-metragens brasileiros num par de maratonas de exibição organizadas sob o crivo da produtora Kátia Adler. A partir desta sexta-feira (24), a sala de projeção TIFF - Bell Lightbox, na região de Downtown, no centro de Toronto, vai exibir 13 filmes nacionais, na grade do 16° Brazil Film Fest, que segue até o dia 26 deste mês. Logo na sequência, de 1º a 7 de dezembro, Kátia realiza em Montreal, no Cinéma du Parc, o 17º Festival du Film Brésilien.

Toronto vai se deliciar com títulos ainda inéditos em nosso circuito como "Vermelho Monet", de Halder Gomes, e "O Sequestro do Voo 375", de Marcus Baldini, ao mesmo tempo em que vai conferir sucessos que tiveram longeva estada em telas do Rio como "Medida Provisória", de Lázaro Ramos, e "Andança - Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho", de Pedro Bronz. Já o público de Montreal terá chance de repensar a potência memorialista do cinema com "Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho, ao mesmo tempo em que vai chacoalhar o coração no pancadão de "Nosso Sonho: A História de Claudinho e Buchecha", de Eduardo Albergaria (atual campeão brasileiro de bilheteria do país, visto por meio milhão de pagantes). Há ainda a deixa para a população canadense prestigiar um dos mais aclamados desempenhos de Regina Casé na telona: "Três Verões", de Sandra Kogut, pelo qual ela recebeu o troféu de Melhor Atriz no Festival do Rio 2019.

Os eventos contam com patrocínio do Consulado Geral do Brasil em Toronto, do Instituto Guimarães Rosa e da transportadora Mellohawk, contando ainda com o apoio do Trade Café, do Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontário (Concid) e do Brasil Remittance.

Na entrevista a seguir, Katia - responsável pelo prestigiado Festival de Cinema Brasileiro de Paris - fala sobre o desenho dessas mostras.

Numa analogia com a sua vasta experiência de produtora cultural na França, como você vê a relação do Canadá com o cinema e de que forma a pátria de mestres como Denys Arcand e David Cronenberg oferece a produtores um veio de investimento e de abertura para projetos do Brasil, como o festival?

Katia Adler: Minha experiência com cinema na França, enquanto brasileira, mostra um cenário muito interessante, principalmente nas coproduções. Há mais de 20 anos que atuo aqui, com produção e festivais, em diversas parcerias que promovem essa transversalidade das culturas e estimulam trocas e possibilidades de parcerias. Chegamos a ter parcerias que também levavam filmes do Canadá para o Brasil, mas infelizmente, no governo anterior, esses projetos ficaram difíceis de continuar. Estamos otimistas de voltar com essas coproduções e parcerias agora.

De que maneira a troca que você vem promovendo entre filmes brasileiros e territórios francófonos amplia as relações de nossa cultura audiovisual com os povos da Europa e da América do Norte? Há sinais evidentes do quanto essa aproximação, via cinema, estreita os interesses deles por nós?

Essa troca acontece em todos os campos, desde o simbólico. Mostramos nossa diversidade artística e cultural, com as singularidades e potências brasileiras, e conseguimos estabelecer, através do cinema, alianças importantes para que o Brasil seja conhecido sob novos olhares, novas perspectivas. Isso cria um laço entre os países que fortalece a fruição, a criatividade, as inteligências, o conhecimento e aumenta a capacidade de interação dos povos. No Canadá, por exemplo, quase metade da população é estrangeira, então temos um público muito variado. Há um interesse particular aqui, em relação aos povos originários. O Canadá desenvolve políticas de proteção muito estruturadas em relação às populações tradicionais, e isso cria um vínculo com o Brasil, por que também temos essa necessidade com os povos indígenas.

Como foi feita a seleção de longas para o evento canadense e de que forma o Canadá reage à chegada da cultura brasileira às suas telas?

A gente traz um leque do que está sendo feito no cinema brasileiro. Tem um pouco de comédia, drama, documentário, entre outros. A curadoria tem o objetivo de trazer essa diversidade, de mostrar um Brasil em todas as suas diferenças e belezas. E o cinema tem esse poder, de representatividade do povo, das suas culturas. O festival tem um papel fundamental tanto em Toronto, quanto em Montreal. Nos dois lugares, o público tinha pouco acesso às produções brasileiras e o festival cumpre esse intuito de levar nossa produção para mais lugares. As pessoas hoje já vêm ao TIFF buscando filmes brasileiros, e isso é resultado de anos de trabalho aqui. Isso também aquece o mercado cinematográfico, abrindo portas para os filmes. O festival é uma vitrine para o cinema brasileiro.

 

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