Por: Rodrigo Fonseca Especial para o Correio da Manhã

Pirandello nas telas

Toni Servillo, ao centro, é o Pirandello de 'La Stranezza' | Foto: Divulgação

Embora não integre o bonde que mantém o cinema italiano vivo nos grandes festivais (no qual brilham Nanni Moretti, Alice Rorwacher, Marco Bellocchio, Paolo Sorrentino, Laura Bispuri, Mario Martone e Matteo Garrone), o diretor siciliano Roberto Andò construiu uma estética muito particular de 1995 até hoje, por meio de 12 produções para o cinema e dois telefilmes, ligado a tramas sobre o descontrole.

Toni Servillo, espécie de Raul Cortez da Itália, famoso aqui por "A Grande Beleza" (2013), é seu ator fetiche, e ajudou a popularizá-lo fora da Europa com o êxito comercial de "Viva a Liberdade" (2013), irônica alegoria política. Servillo volta a escudar o cineasta em "La Stranezza", que entra em cartaz nesta quinta, batizado de "A Estranha Comédia da Vida". Sua direção de arte, recriando o Velho Mundo dos anos 1920, é um primor.

Longa de abertura da seleção carioca da 8½ Festa do Cinema Italiano 2023, em junho, "La Stranezza" esbanja bom humor. É estimulante a ideia de ver Servillo no papel de um ícone da prosa: Luigi Pirandello (1867-1936), dramaturgo e autor de "O Falecido Matias Pascal" (1904) e "Assim É (Se Lhe Parece") (1917), ganhador do prêmio Nobel em 1934. O audiovisual da pátria de Fellini anda revolvendo com frequência o legado de Pirandello, vide o recente "Leonora Adeus" (ganhador do Prêmio da Crítica na Berlinale 2022), de Paolo Taviani. A chave deste recente interesse pela obra do escritor se reporta à maneira como Pirandello se reporta à culpa sem vetores morais, o que se alinha ao ethos da contemporaneidade, em sua fluidez e liquidez.

Na trama escrita por Andò, em parceria com Ugo Chiti e Massimo Gaudioso, Pirandello encara uma crise criativa no momento em que esbarra com dois atores de espírito mambembe, Onofrio Principato (Valentino Picone) e Sebastiano Vella (Salvatore Ficarra, brilante), que estão ensaiando um espetáculo com intérpretes não profissionais, num processo em que vaidades coletivas afloram.

O método deles desperta a curiosidade de Pirandello, que se comporta com um observador atento, mas silencioso, ruminando hipóteses criativas.

 

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