Por: Pedro Sobreiro

Capitã Marvel volta acompanhada de amigas superpoderosas em "As Marvels"

As Marvels chega aos cinemas nesta quinta-feira (9) | Foto: Divulgação

Por Pedro Sobreiro

Com estreia marcada para esta quinta-feira (9), 'As Marvels' é uma aventura ambiciosa do Marvels Studios, que vai reunir em tela a Capitã Marvel, Monica Rambeau e a estreante Ms. Marvel em uma trama pelo espaço e pelo Multiverso. O longa é um grande crossover entre três franquias completamente diferentes da casa, fazendo desse filme um dos projetos com mais cara de "história em quadrinho" dos últimos anos.

A história da vez gira em torno de um acontecimento misterioso que foi introduzido ao final da série 'Ms. Marvel' (2022). Na cena pós-créditos do último episódio, a pequena Kamala Khan (Iman Vellani) usa seus poderes no quarto de sua casa e desaparece misteriosamente, sendo substituída pela Capitã Marvel (Brie Larson) que surge sem entender nada. Na época, ficou muito confuso, mas agora as coisas começaram a fazer sentido.

Em 'As Marvels', uma vilã alienígena da raça Kree quer acabar com a Capitã Marvel e vai tentar tirá-la de seu caminho entrelaçando os poderes da vingadora com o de outros super-humanos de habilidades parecidas. Então, toda vez que Carol Danvers, Monica Rambeau (Teyonah Parris) e Kamala Khan usarem seus poderes, elas vão trocar de lugar entre si. Só tem um problema: o trio é completamente diferente e nem todas sabem exatamente como controlar plenamente seus poderes. Então, por exemplo, se uma estiver voando, pode acabar trocando de lugar com a Kamala, que ainda não sabe voar. Como a menina vai fazer para se salvar aparecendo magicamente no céu em queda livre?

A partir dessa premissa, as três vão precisar se encontrar para definir como lidar com a situação. E como é de praxe nas aventuras de super-heróis, a chave para resolver o problema é aprender a trabalhar em equipe. No entanto, em meio a essa situação adversa, a supervilã da vez, a Kree Dar-Benn (Zawe Ashton) põe em curso um plano para romper a realidade e novamente trazer caos para o Multiverso. É uma luta contra o relógio para se salvar e salvar as múltiplas realidades coexistentes. Será que as Marvels vão conseguir?

Diversão e igualdade nas telonas

Nos EUA, filme vem sofrendo campanhas de boicote de grupos preconceituosos pelo protagonismo feminino

E desde seu 'primeiro capítulo', por assim dizer, a trajetória da Capitã Marvel no MCU, iniciada em 2019, vem enfrentando um adversário que transcende as telas dos cinemas: o preconceito. Criada no final dos anos 1960, Carol Danvers foi uma personagem revolucionária nos quadrinhos desde sua concepção.

Surgindo no auge do movimento feminista, ela era uma super-heroína, mas lutava também com sua identidade secreta, pleiteando direitos para mulheres, como pagamento igualitário no trabalho. E por mais incrível que pareça, a reclamação dos supostos fãs´, que estão há quatro anos fazendo campanha contra a personagem, é que o filme é "lacrador" por mostrar uma militar marrenta, considerada a criatura mais poderosa do Universo Marvel, que não se curva para os vilões. Ou seja, eles estão chorando por fidelidade aos quadrinhos.

Diversidade

Ciente dessa campanha misógina, a Marvel não se incomodou e reuniu um grupo que certamente vai causar pesadelos em quem não aceita que o mundo mudou e que há espaço para que todos e todas sejam protagonistas de suas histórias.

Desde o primeiro filme, o primeiro do MCU a ser dirigido por uma mulher, Anna Boden, a Marvel fez questão de estabelecer a franquia como símbolo do protagonismo feminino no estúdio. Em 'As Marvels', isso será ampliado ainda mais. Boden não retorna para a direção, abrindo espaço para a promissora Nia DaCosta, que conta com 'Little Woods' (2018) e o terror 'A Lenda de Candyman' (2021) no currículo. Com apenas 33 anos, Nia se tornou a diretora mais jovem a comandar um filme do MCU.

Mais do que isso, as três protagonistas são um combo incrivelmente diverso, algo ainda não muito comum nesse tipo de produção. Carol Danvers é uma líder independente, que viaja pelo universo salvando vidas e planetas inteiros. Monica Rambeau é uma mulher negra que trabalha para a principal agência espacial da Terra, enquanto Kamala é uma adolescente de família paquistanesa que acabou de ganhar seus poderes, precisando lidar com as contradições de seus atos rebeldes com sua religião, visto que é muçulmana.

Em tempos de 'Black Live Matters' e do forte preconceito contra imigrantes, lançar um filme assim nos EUA é uma forte mensagem contra os tempos sombrios vividos pelo mundo.

Opostos se atraem

Mesmo sendo uma aventura pelo espaço, o filme promete se consagrar mesmo pela interação das três super-heroínas, que são completamente diferentes uma da outra. Carol tem esse jeito mais sério, de militar casca grossa que não tem paciência pra bobagem, enquanto Kamala é literalmente uma criança que cresceu idolatrando a Capitã Marvel, fazendo podcasts e escrevendo 'fanfics', as famosas histórias de amor escritas na internet, protagonizadas por Carol. Agora, as duas vão trabalhar juntas na primeira missão pelo espaço da pequena Ms. Marvel. É quase como se a super-heroína mais poderosa do MCU ganhasse uma estagiária que não sabe muito bem o que está fazendo.

Entretanto, o grande conflito do trio deve vir da relação estremecida entre Carol e Monica Rambeau. Introduzida no primeiro filme da Capitã Marvel, Monica é afilhada da super-heroína e mesmo sendo apenas uma criança em 1995, ajudou sua 'Tia Carol' na missão contra os Kree. Apelidada pela madrinha de 'Tenente Problema', por ser uma criança enérgica, Monica cresceu na esperança de voltar a ver sua madrinha, que foi para o espaço e nunca mais voltou.

O problema é que os anos se passaram e a mãe de Monica, Maria Rambeau, se envolveu em missões espaciais e descobriu um câncer. Durante os tratamentos, Monica acompanhou a mãe diariamente até o dia em que Thanos estalou os dedos e acabou com metade da vida existente no universo. Infelizmente, sua mãe não foi "apagada" e precisou passar pela quimioterapia sozinha. Então, quando os Vingadores derrotaram o vilão, trazendo todos os apagados de volta a vida, Monica descobriu que sua mãe não havia resistido ao tratamento.

Diante dessa tristeza enorme, Rambeau ficou extremamente magoada com a Capitã Marvel, não só por não ter impedido Thanos em 2018, mas principalmente por ter abandonado as duas sozinhas na Terra por quase 30 anos. Agora, Carol e Monica vão se reencontrar pela primeira vez, precisando superar todas as mágoas para tentarem sobreviver a ameaça de Dar-Benn.

Das telinhas para as telonas

Diferentemente de Carol, que teve sua história contada em filmes como 'Capitã Marvel' e 'Vingadores: Ultimato', Monica teve seu arco de super-heroína desenvolvido em uma série exclusiva do Disney+. O público viu um pouco de sua infância em 'Capitã Marvel', mas foi em 'WandaVision' que ela ganhou seus superpoderes. Na série, a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) ficou tomada pelo luto e usou seus poderes para sequestrar a cidade de WestView, onde criou uma cúpula de energia para isolar a cidadezinha e transformar seus habitantes em personagens inspirados nas suas séries favoritas, criando um mundo perfeito. Então, Monica foi enviada pela agência onde trabalha, a S.W.O.R.D., para tentar acabar com essa maluquice. Ela conseguiu atravessar o campo energético, mas acabou sendo enfeitiçada. E quando despertou dos encantamentos de Wanda, acabou sendo afetada pela energia da cúpula, ganhando a capacidade de ver e manipular diferentes tipos de energia.

Já a história de Kamala foi toda trabalhada na série 'Ms. Marvel', também lançada no Disney+. Ao longo de seis episódios, o público acompanhou a menina encontrar um bracelete ancestral da família, que acabou despertando seus poderes mutantes de materializar e projetar energia, fazendo da Kamala a primeira mutante do MCU.

Agora, as duas terão a chance de mostrar mais do que são capazes para um público mais amplo nos cinemas.

Flerkens

Quem também volta para o filme é o espião Nick Fury, que roubou a cena em 'Capitã Marvel' por sua inesperada interação com a gatinha Goose, que na verdade era um alienígena perigosíssimo da raça Flerken, que tem a aparência de um gato doméstico. E para o delírio dos fãs, a Goose retorna para a sequência com uma série de Flerkens mais jovens. Ou seja, a diretora queria colocar um monte de gatinhos bebês no filme e a forma que encontrou para fazer isso foi transformá-los nessas maquinhas de destruição em massa.

Fundamental

Por fim, o filme tem essa vibe de aventura entre inimigas que virarão amigas, mas traz um cenário importantíssimo para o futuro do Universo Cinematográfico Marvel. O plano da vilã é causar um colapso de realidades no Multiverso, que é mais ou menos o que a série 'Loki' abordou nesta segunda temporada que terminou hoje. Mais do que isso, é um plano que envolve diretamente o vilão dos próximos dois filmes dos Vingadores, o déspota Kang, o Conquistador (Jonathan Majors).

Ou seja, 'As Marvels' ganha um status de filme-evento que poderá definir os caminhos que serão seguidos nos próximos dois anos da empresa, incluindo a tão sonhada estreia dos X-Men.