Por: Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Um conto chinês animado

'Art College 1994', animação de Liu Jian cuja excelência foi atestada na Berlinale | Foto: Divulgação

 

Debruçada sob o planisfério cinéfilo atrás de joias autorais, a Mostra de São Paulo dedica a tarde de sua segunda-feira a uma viagem à China, em busca de um dos mais transgressores exercícios de animação em 2023: "Faculdade de Artes 1994" ("Art College 1994"). Quem atestou sua excelência, no início deste ano, foi a Berlinale, uma das três mais concorridas maratonas cinematográficas do Velho Mundo (ao lado de Cannes e Veneza), na qual a produção, pilotada por Liu Jian, concorreu ao Urso de Ouro. É um painel de época com base na memória do diretor sobre sua passagem pelo curso de Belas Artes e sua relação com amigos que viviam uma mudança estrutural na cena cultural de um país que passou boa parte do século XX sob a égide maoísta. Tem projeção do longa esta tarde, às 13h30, no Espaço Itaú Augusta, em sua sala 2.

"É um pedaço da minha história num centro de artes que formou grandes criadores do cinema e das artes plásticas, estruturada como um balanço geracional. Levamos cinco anos pra fazer esse filme, com desenhos à mão, usando o computador apenas para finalizar algumas cenas", explicou Jian ao Correio da Manhã em Berlim.

Sua referência a "gigantes" das artes envolve, por exemplo, o ganhador do Leão de Ouro de 2006 com "Em Busca Da Vida", o diretor Jia Zhangke, premiado em Cannes, em 2013, por "Um Toque De Pecado". "Ele é um realizador que eu admiro. participou do elenco de vozes não só por eu admirá-lo, mas por ele ter estudado nesse ambiente que nós retratamos", disse Jian, que concorreu no festival alemão em 2017, com "Have a Nice Day", uma comédia policial. "Queria mostrar a energia da juventude daquela época".

Descrito por seu produtor, Yang Cheng, como sendo um "filme de baixo orçamento, de alta qualidade plástica", "Art College 1994" retrata de maneira bem-humorada a rotina de um grupo de estudantes de pintura com hormônios à flor da pele, descobrindo o sexo e Van Gogh.

"Não se pode falar sobre o processo de criação sem liberdade", disse Jian, que transforma o longa num inventário sobre amizades.