É impossível para César Coelho, um dos quatro criadores do Anima Mundi (ao lado de Aída Queiroz, Léa Zagury e Marcos Magalhães) escaparem da pergunta: "E aí, quando o evento volta?". Desde 2019, por culpa de desgovernos recentes, o Brasil ficou órfão do mais potente festival de animação da América Latina. Mas ele e sua turma estão preparando o regresso tão esperado da festa animada.
Até lá, César encampa outros projetos, entre eles animar porções essenciais à narrativa de "Utopia Tropical", de João Amorim, que concorre ao Redentor de Melhor Documentário no Festival do Rio. Trata-se de um estudo sobre o desarranjo da harmonia social a partir do avanço das grandes corporações comerciais e industriais.
O longa equilibra uma tonelada de imagens de arquivo numa gradação crescente de pressão em sua edição suave, porém, atenta à tensão inerente aos debates acerca da inflação, de formas de governo conservadoras. O linguista Noam Chomsky e o diplomata Celso Amorim entram na narrativa não como tema, mas como personagens. Não é um filme SOBRE eles, mas, sim, COM eles, numa forma de explorar a História e, sobretudo, a Economia que utiliza a semiologia de forma lúdica. César explica seu papel nesse jogral geopolítico.
Qual o espaço para a liberdade criativa da animação num documentário que dialoga com Celso Amorim e Noam Chomsky em meio a um turbilhão de ideias de ambos?
César Coelho: A particularidade deste trabalho reside no fato de o João Amorim, o diretor, ser também um animador. Ele já escreve o projeto pensando nas partes que seriam animadas e que estariam aplicadas às ideias de dois grandes pensadores. Neste caso, a animação entra em campo para solidificar conceitos filosóficos que, historicamente, sempre formam abordados de forma marginal.
Chama a atenção o traço engraçado que você utiliza para representar os EUA - a águia - e a China - um panda - numa relação antropomórfica com a sociologia. Como se deu essa escolha iconográfica?
Tinha que pegar símbolos facilmente conectáveis com os personagens, como o uso de um urso grandão para simbolizar a URSS. Isso facilitava a identificação da plateia.
A animação foi feita de que forma em relação à captação dos depoimentos?
João Amorim já havia rodado tudo, mas não havia ainda uma ordem na montagem para as cenas.
Em 2022, você esteve na competição da Première Brasil, com Aída Queiroz, com o Senhor do Trem. Que espaço o Festival do Rio vem dando à animação?
Eu fico feliz de ver esse carinho do festival com a nossa classe, num respeito que a Ilda Santiago e a Walkíria Barbosa, suas curadoras, sempre tiveram com a gente. É bom ter a chance de ser premiado fora de um festival nichado. No Festival do Rio, um animado concorre pelo roteiro, pela direção, por várias categorias em muitas frentes.