Entre as boas opções deste Festival do Rio 2023 destaca-se a sessão do drama "De Volta à Córsega" ("Le Retour"), que garante ao público carioca um rico panorama das inquietações autorais da realizadora francesa Catherine Corsini. É um trabalho magistral de observação dos códigos de solidariedade entre mulheres e o entendimento de uma geografia pouco explorada pela indústria audiovisual europeia.
"A Córsega é um local onde as pessoas parecem esconder algo. Lembro de ter visto um filme de um conterrâneo francês, chamado 'Le Silence' (dirigido por Orso Miret), que se passava lá e era um atestado do mistério que existe naquela paisagem", disse Corsini ao Correio da Manhã pouco antes de partir para uma ronda pelo bairro da Glória, onde está a sede do Festival do Rio este ano. "Já passei pelo Brasil antes e fico sempre me questionando como as questões ligadas a uma transformação do papel das mulheres, como a legalização do aborto e a equidade, tem sido processada aqui, por conta do histórico machista. Na França, para as cineastas, existe, sim, um momento de solidificação de novas diretoras, mas é no grito. Temos muita luta ainda".
Aos 67 anos de vida e 41 de carreira, a realizadora lançou "De Volta à Córsega" na disputa pela Palma de Ouro de Cannes, depois de ter brigado por prêmios no badalado balneário com "A Repetição" (2001) e "A Fratura" (2021). Este último deu a ela a Queer Palm, espécie de láurea LGBTQIA . Seu filme mais recente, perfumado com o aroma do melodrama, narra o regresso de Khédidja (Aïssatou Diallo Sagna), com suas duas filhas, à terra de onde, um dia, teve de fugir. Regressar é uma experiência dolorosa.
"A maneira de reagir àquela paisagem era busca uma luz que fugisse do cartão-postal", diz Corsini. "Estamos falando de uma personagem forte, num filme onde tudo é íntimo".
O Festival do Rio 2023 segue até o dia 15, quando o júri presidido por Laís Bodanzky anuncia quem leva o troféu Redentor. "Estranho Caminho", de Guto Parente, é, até agora, o mais sólido competidor.