Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
Premiados em San Sebastián em 2018, em seleções diferentes, respectivamente por "Família Submersa" (Prix Horizontes Latinos) e "Vemelho Sol" (Concha de Prata de Melhor Direção), María Alché e Benjamín Naishtat têm tudo para repetir o placar este ano, agora unidos, na competição oficial do festival espanhol, com "Puan".
Produzido em parceria com o Brasil, o longa-metragem do duo argentino é o exercício estético mais pleno (em excelência técnica e em ardor) de toda a disputa pelos troféus ibéricos de 2023. Um elenco em estado de graça, com destaque para Marcelo Subiotto, guia uma comédia exuberante sobre ensino na seara da edução universitária pública de nuestros hermanos.
Subiotto tem uma atuação elétrica no papel de Marcelo Pena, professor de Filosofia especializado na obra de Thomas Hobbes e de Martin Heidegger que tem a chance de assumir o posto deixado por seu antigo mestre. Sua vida é confusa, mas suas ideias são brilhantes. Mas o retorno de um apavonado colega de seu passado, Sujarchuck (Leonardo Sbaraglia, que dispara como favorito ao prêmio de coadjuvante), tira seus planos e sua paz do eixo.
Mas o que poderia ser um duelo de vaidades se transforma - numa virada de roteiro brilhante - em um estudo sobre a luta diária de educadoras e educadores. A escrita fina do filme ganha ainda mais viço com a fotografia de Hélène Louvart, que clicou "A Vida Invisível" (Prix Un Certain Regard 2019 em Cannes). "É uma honra encarar um personagem que passa por situações cômicas, num contexto torpe, no qual o sistema de educação latino-americano, muito importante, mas sempre em crise, é parte de seu caminho", diz Subiotto ao Correio, disparando na preferência da crítica. "Sou formado pelo ensino público e devo tudo que sou".