Por: Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

ENTREVISTA / GRIFFIN DUNNE, ATOR, DIRETOR E PRODUTOR: 'Nunca foi fácil ser engraçado'

Griffin Dunne: 'Notei que produzir ia facilitar as minhas chances de ser escalado, pois, se eu produzo, posso arrumar um papel para mim' | Foto: Reprodução NBC

Vítima da lua cheia no terror cult "Um Lobisomem Americano Em Londres" (1981) e alvo das estripulias pop de Madonna em "Quem É Esta Garota" (1987), o nova-iorquino Griffin Dunne começou a fazer cinema em 1975, como ator, dividindo a agenda com trabalhos como produtor e cineasta. Até indicação ao Oscar de Melhor Curta-Metragem ele tem no currículo, uma vez que concorreu a uma estatueta em 1996, com o filme "Descobertas". A pluralidade de sua obra é inegável, mas ela tem sido resumida a um só filme: a comédia "Depois de Horas" ("After Hours"), que rendeu a Martin Scorsese o prêmio de Melhor Direção em Cannes. No Brasil, o filme passou na "Tela Quente", com Selton Mello dublando Dunne.

Mas, aos 68 anos, ele pode ter emplacado uma nova performance icônica a julgar pela badalação acalorada em torno de seu desempenho em "Ex-Husbands". No filme de Noah Pritzker, ele vive o Dr. Peter, um dentista de Nova York em processo de separação da mulher com quem viveu por 35 anos - papel confiado a Rosanna Arquette, sua parceira no longa de Scorsese. Em busca de sossego, ele embarca numa viagem para um resort no México sem saber que seus filhos vão estar lá.

Na entrevista a seguir, Dunne faz um balanço de sua vida nas telas.

De certa forma, a saga do dentista Peter retratada em "Ex-Husbands" fala sobre a arte de envelhecer. Como você, aos 68 anos, avalia as reações do personagem?

GRIFFIN DUNNE: O maior barato de fazer carreira como ator é que, numa época, você vai sempre interpretar filhos e, em outra, passa a viver pais ou avôs. Antes, em tramas de tribunal, os estúdios me chamavam para viver advogados e, hoje em dia, já me escalam para viver juízes. O especial no processo de "Ex-Husbands" é que é cada vez mais difícil ter papéis bons para atores da minha idade.

Mesmo sendo diretor e produtor também?

Notei que produzir ia facilitar as minhas chances de ser escalado, pois, se eu produzo, posso arrumar um papel para mim. Mas quando estou atuando, eu meio que tiro férias das responsabilidades que tenho quando estou num projeto como cineasta ou trabalhando na produção. Tendo um diretor como Noah, eu só me deixo guiar pelo roteiro e busco espaços para expressar o que há na essência do meu personagem. Não fico pensando se o filme vai estar num festival como o de San Sebastián ou se será aplaudido.

Sua carreira começou nos anos 1970 e foi para vários caminhos desde então, mas "Depois de Horas" está sempre em destaque. Aquele filme é quase um emblema da sua trajetória. Em que ponto um acerto assim é uma bênção e em que medida é uma maldição?

Fui o filme que abriu as portas do mundo para mim. Na época em que fez a sua primeira exibição mundial, em Cannes, em 1985, estava rolando o boato de uma ameaça de bombas e os artistas americanos todos cancelaram sua ida. Stallone e Schwarzenneger não viajavam, mas eu, que produzi o filme, sim, o que fez jornais como o "Le Monde" me chamarem de "O Ator Mais Corajoso da América". Por outro lado, na minha relação com a comédia, o filme acabou me associando a um arquétipo do atrapalhado em situação de risco.

Qual é o maior desafio de se fazer humor sob a patrulha da correção política?

Nunca foi fácil ser engraçado e eu fico nervoso só em ter que formular sobre fazer comédia. Mas eu tenho visto que os shows dos comediantes andam cheios. O público está lá. Acredito que sempre vai haver lugar na arte para a irreverência, ela só tem que se acomodar às transformações. As tensões do nosso tempo hão de se acomodar.

Peter fala muito, mas diz mais ainda em sua quietude, vendono mar. Que marcações reflexivas você trouxe para o filme ao construir esse personagem?

Não é uma escolha consciente. Eu apenas fico atento aos momentos em que possa haver um respiro e tento aproveitar.