Por: Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

A vida é bela para Matteo Garrone

'Io Capitano', de Matteo Garrone, opera com realismo e fantasia e sério candidato ao Oscar | Foto: Divulgação

Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Pouco antes de rodar "Io Capitano", escolha oficial da Itália para brigar por uma vaga no Oscar 2024, que está encantando San Sebastián, o realizador romano Matteo Garrone andava com a cabeça em universos fabulares. Mas é com uma história bem pé no chão sobre perigos da imigração que ele se acerca dos holofotes de Hollywood.

"Aventuras nos deram a chance de conhecer os arquétipos da psique humana, numa ponte direta com a cartografia de humanidades que os gregos, nas tragédias, começaram a documentar, recriando relatos como fábula. O que eu procuro fazer ao operar com as fábulas é mesclar realismo e fantasia, levando um pouco de um para o outro, misturando o que é lúdico com o que existe de mais duro no real", disse o realizador de "Gomorra" (ganhador do Grande Prêmio do Júri de Cannes em 2008) ao Correio da Manhã, por telefone, quando estava escrevendo o exuberante "Io Capitano".

Ganhou com ele o Leão de Prata de Veneza, que deu ainda a seu belo filme o troféu Marcello Mastroianni de Melhor Estrela Revelação (para Seydou Farr) e mais dez prêmios de júris paralelos. Farr vive um adolescente senegalês de 16 anos que se junta a seu primo de mesma idade, Moussa (Moustapha Fall) numa jornada de Dakar para a Sicília, em busca de uma vida melhor. Passa por toda a sorte de percalços para isso, encarando um deserto escaldante, tropas armadas e barcos lotados. É uma narrativa tensa, mas comovente, que dialoga visualmente com a tradição do grande cinema italiano moderno.

"Eu sou influenciado por muitos dos grandes realizadores do meu país. Se eu tivesse que fazer uma escolha radical acerca de quem mais me influenciou, falaria de Rossellini e Fellini, mas há todo um legado de Elio Petri, de Marco Ferreri e de Monicelli em mim. Eu tento preservar uma relação vívida com o passado, como muitos de meus contemporâneos fazem. Fico muito feliz em que que o cinema italiano tem atravessado nossas fronteiras, em parte pela diversidade do que fazemos, honrado os grandes mestres que nos antecederam.