Despedida de Neguinho marca o segundo dia de desfiles na Sapucaí

Unidos da Tijuca, Beija-Flor, Salgueiro e Vila Isabel dão sequência aos desfiles das escollas no Sambódromo

Por Yuri Eiras

Emocionado, Neguinho da Beija Flor, faz seu último desfile como intérprete da agremiação de Nilópolis

A segunda noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial teve Unidos da Tijuca, Beija-Flor, Salgueiro e Vila Isabel. Única escola com enredo que não tratou de temas ligados à africanidade ou raízes brasileiras, a Vila fez um desfile qe não empolgou. Tijuca e Salgueiro fizeram bons desfiles, honrando seus enredos. A despedida de Neguinho da Passarela do Samba - o intérprete da Beija-Flor dez seu último desfile defendendo o samba da escola - emocionou o público presente assim como a homenagem ao carnavalesco e diretor Laía (morto em 2023). Ao lembrar Laíla, a escola citou seus desfiles memoráveis com o carnavalesco Joãosinho Trinta, morto em 2011. E, agora, sem Neguinho a agremiação de Nilópolis parece encerrar um ciclo em sua história.

Tata Barreto/Riotur - O desfile da Unidos da Tijuca refletiu a vitalidade, ousadia e fartura que a divindade Logun Edé representa

 

A Unidos da Tijuca abriu o segundo dia de desfiles do Grupo Especial do Rio com um samba-enredo que tem a cantora Anitta entre os compositores. "Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita" homenageou o orixá filho Oxum e Oxóssi. O desfile refletiu a vitalidade, ousadia e fartura que a divindade representa. O carro abre-alas trouxe mulheres grávidas que expressavam a fertilidade de Oxum, orixá que aparecia gigante sobre o veículo, balançando os braços diante de búzios que se mexiam logo abaixo, na frente do carro, como se estivessem sendo jogados, prevendo o futuro do filho.

O segundo carro, colorido em verde, vermelho, azul e amarelo, simbolizava Logun Edé e suas representações animais, como o tigre e o camaleão - animal considerado mutável, como o próprio orixá. O carro entrou na avenida apagado. O uso de esculturas humanas e animais é característica do carnavalesco da escola, Edson Pereira. 

No enredo, a escola destacou a juventude do morro do Borel, favela localizada na Tijuca. A comunidade esteve representada no desfile pelo último carro, que transformou a avenida em um baile funk, com a escultura de um grande DJ e dançarinos fazendo o passinho carioca.

Alex Ferro/Riotur - A reprodução do carro alegórico Cristo Mendigo, censurado no Carnaval de 1989, foi um dos destques da homenagem da Beija-Flor a Laíla, um de seus grandes nomes

Segunda escola a desfiar,  A Beija-Flor fez a despedida di intérprete Neguinho da Beija-Flor, que esteve com a escola pelos últimos 50 anos, em uma apresentação que fez homenagem a Laíla (1943-2021), um dos símbolos do Carnaval carioca. A azul e branco de Nilópolis oi ovacionada em sua entrada na avenida. No aquecimento, Neguinho cantou três sambas durante e precisou se recompor antes de começar a cantar o samba deste Carnaval. 

Já no início do desfile, a Comissão de Frente trouxe, cercado por símbolos religiosos, o ator Levi Asaf, 11, interpretando Laíla criança. O carro abre-alas da Beija-Flor fez referência a Xangô, orixá de cabeça de Laíla. À frente do carro, o ator Samuel de Assis, 42, representou o orixá.

Segundo o enredo da escola, Laíla herdou diversas características de seu Orixá de cabeça, como a determinação inabalável, o comportamento autoritário, a fama de ser temperamental e o ímpeto explosivo, que se manifesta com força diante de qualquer forma de injustiça.

Um dos momentos de maior animação do público aconteceu durante a passagem do tripé que reproduziu a alegoria do Cristo Mendigo. O Cristo Mendigo desfilou em 1989, coberto por plástico preto, após manifestação da igreja católica contrária à escultura. Na reprodução de 2025, o tripé apresenta sósias de Joãozinho Trinta, carnavalesco da época, e Laíla, o então diretor de Carnaval.

 

Tata Barreto/Riotur - O Salgueiro evolui na Praça da Apoteose com seu enredo que fala das mandingas

O Salgueiro foi a terceira escola a desfilar. Com o enredo "Salgueiro de Corpo Fechado", a escola colocou na avenida uma série de rituais e símbolos de proteção religiosa. O abre-alas apresentou um preto velho pilando uma erva. A escultura soltava uma densa fumaça enquanto atravessava a Sapucaí. Na lateral da escola, mulheres carregavam turíbulos, instrumentos próprios para rituais de defumação.

No meio do desfile, a escola colocou na Sapucaí um tripé -carro alegórico no qual podem ir somente duas pessoas- com 30 mil litros de água. O tripé representava o processo de iniciação no candomblé, conhecido como "fazer o santo", envolvendo rituais corporais, oferendas e a construção de altares.

Mas foi o último setor que levantou o público ao colocar na Sapucaí representações de entidades da umbanda, como Zé Pelintra e Maria Padilha.

O Salgueiro atravessou a Sapucaí com boa evolução, principal problema recente da escola. O público reagiu positivamente ao desfile, cantando o samba. Viviane Araújo, rainha de bateria da escola, e Flávia Alessandra, que entrou vestida de Maria Bonita, foram destaques do desfile.

 

 

Tata Barreto/Riotur - José Loreto interpreta Satanás no desfile da Vila Isabel, que apostou nos elementos de terror em seu enredo e acabou não empolgando a plateia

A Unidos de Vila Isabel encerrou a segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Rio apresentando um enredo sobre medo, assombrações e ícones do terror.

A Comissão de Frente encenou a lenda de Jack Lanterna, que deu origem às abóboras iluminadas tradicionais do Halloween. Na performance, o ator Amaury Lorenzo, 40, interpretou Jack, que na história engana o diabo, interpretado por José Loreto.

O abre-alas foi um grande trem fantasma, que teve como maquinista o humorista Rodrigo Santana, 43. À frente do carro, o cantor e compositor Martinho da Vila, 87, presidente de honra da escola, desfilou sobre a escultura de uma caveira. A rainha de bateria Sabrina Sato entrou fantasiada de vampira. Lendas brasileiras, como a cobra gigante boitatá, o saci e curupira, entraram na sequência.

Mas a escola enfrentou problemas. O quarto carro alegórico, que representava o castelo mal-assombrados de Conde Drácula, demorou para entrar na avenida. A alegoria precisou manobrar diversas vezes na curva e entrou com problemas de acabamento. Uma das pilastras do castelo descolou, obrigando a equipe técnica a subir em escadas já durante o andamento do desfile, em frente ao setor 1. O setor, contudo, ainda não é considerado desfile oficial e está fora da vista dos jurados.

A alegoria que representava a lenda do bicho-papão não empolgou, mesmo com referências à cultura pop, como as personagens da animação "Monstros S/A". Mesmo no início do desfile, onde ficam os torcedores mais fervorosos, a reação dos presentes foi assistir passivamente.