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Reconstruindo legados

A artista visual francesa Adeline Rapon recria imagem de sua bisavó em imagem da exposição 'Legado Perdido' que será aberta hoje e traça um painel histórico sobre a Martinica | Foto: Acervo de família

Adeline Rapon, fotógrafa e influencer francesa de origem martinicana, chega ao Rio para apresentar sua exposição individual "O Legado Perdido". São ao todo 37 fotografias criadas durante o confinamento da Covid-19 em março de 2020. A mostra será aberta nesta quinta-feira (28), às 18h30, na Galeria Aliança Francesa Botafogo. A mostra reflete sobre a história e a cultura da Martinica, um departamento ultramarino francês no caribe.

As fotografias de Rapon, são uma reconstrução de imagens de arquivo de mulheres caribenhas que datam de final do século 19 e neste jogo de espelhos e imitações, a fotógrafa questiona e procura a sua própria herança ao abordar a questão do lugar da mulher nas Antilhas.

Nascida em Paris em 1990, filha de mãe de Corrèze e pai da Martinica, a fotógrafa começou sua jornada artística com estudos em literatura e história da arte. Desenvolveu então competências diversificadas em desenho, pintura, escultura, cenografia e fotografia, que alimentou através de leituras e visitas as exposições. Em 2008 ela criou um blog combinando fotografia, arte e moda, um lugar para partilhar o seu trabalho fotográfico, de escrita e militante.

A mostra destaca a série de autorretratos "Fanm Fò", que significa "mulher forte" em crioulo, é uma reconstrução de imagens de arquivos de mulheres conhecidas ou anônimas das Antilhas francesas, onde aparecem códigos de vestimenta nas Índias Ocidentais e que nos questiona sobre a maneira como olhamos para essas mulheres no século XIX.

"Negra da Martinica", "Mulata de cabelos macios", "Tipo de mulher de Guadalupe" designam mulheres anônimas, fazendo pose, algumas com os olhos perdidos, outras desgrenhadas. Na sua maioria retirados de postais, estes retratos antigos apresentam figuras reais, muitas vezes fantasiadas, e apresentam-nas como um ponto de venda para o turismo emergente, destacando o Império Colonial Francês no poder até 1945 na Martinica, Guadalupe e na Guiana. Este tipo de imagens foi recorrente em todas as colônias francesas, criando uma imagem estereotipada dos países africanos e asiáticos na França.

O jogo de comparação entre o autorretrato reconstruído e a fotografia original leva a uma melhor percepção do modelo anônimo. "Ao acentuar a diferença entre o presente e o passado, uma dupla narrativa toma forma: de um lado, um quotidiano congelado entre as paredes de um apartamento parisiense, do outro, as pessoas anônimas encerradas numa imagem colonial, produzida principalmente em estúdio", compara a artista.

"Esta série fotográfica é uma reviravolta na minha vida. Permitiu-me afirmar a minha herança martinicana numa França que desde o século XIX tem o hábito de caricaturar e de zombar dela, mas também de aprender muito sobre ela através das pesquisas diárias que acompanhavam as fotografias. Além de tudo isso, também entendi que, finalmente, era isso que eu realmente queria fazer na minha vida: ser uma artista fotográfica. Me aprofundar em um assunto e fazer dele uma obra, que poderá então ser mostrada e contada. Fanm Fò é um momento precioso que tenho o prazer de contar novamente em uma terra tão rica e mista como o Brasil", resume Adeline Rapon.

SERVIÇO

O LEGADO PERDIDO

Galeria da Aliança Francesa (Rua Muniz Barreto, 730, Botafogo)

Até 25/5, de segunda a sexta-feira (11h às 20h) e sábado (9h às 12h)

Entrada franca

 

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