A mostra concentra-se principalmente em gravuras e desenhos, linguagens que José Pedro Croft domina há décadas, complementadas por esculturas e instalações que ampliam a compreensão sobre temas recorrentes em sua obra: o corpo, a escala e a arquitetura. Nascido no Porto em 1957, o artista pavimentou uma sólida carreira internacional.
"José Pedro Croft é um dos principais artistas portugueses da geração que se formou logo após a Revolução dos Cravos. Teve sua trajetória artística toda vinculada aos ideais de liberdade, cosmopolitismo e experimentação. Trata-se de uma poética visual que se afirma no enfrentamento da própria materialidade das linguagens plásticas: a linha, o plano, a cor, o espaço", explica o curador Luiz Camillo Osorio, destacando como o trabalho sempre considera "sua expansão junto à arquitetura e ao corpo".
As gravuras, suporte com o qual Croft trabalha desde os anos 1990, ocupam posição central na exposição, incluindo obras monumentais que chegam a 140x243 centímetros. Para o artista, esta técnica representa muito mais que um meio expressivo secundário. "A gravura é um trabalho de grande ciência física e artesanal, com muito rigor e entrega. Não é algo secundário. Para mim, é uma âncora do meu trabalho. Há coisas que fiz em gravura, que vão me dar soluções para o meu trabalho em escultura", afirma Croft. Diversas séries de anos distintos, muitas realizadas sobre a mesma chapa de metal, aguçam a percepção do público através de variações sutis que revelam o processo criativo.
O curador enfatiza a dimensão política desta abordagem: "Ver não é reconhecer. As muitas variações no interior das séries gráficas conduzem o olhar para dentro do processo em que repetição e diferença se potencializam. A atenção para o detalhe é uma convocação política em uma época de dispersão interessada". Esta filosofia se materializa também nos desenhos apresentados, muitos realizados sobre provas de gravuras com nanquim de 0,25 milímetros. "Eu as uso como uma memória e desenho por cima com linhas de nanquim super finas, criando volumes. Faço os desenhos à mão, trazendo esse mundo de imagens de pixels para a nossa realidade, que é física ainda. É uma maneira de resistir a velocidade de estarmos sempre ligados a um excesso de estímulos", explica o artista.
Seis esculturas complementam o conjunto, sendo quatro inéditas criadas especialmente para a exposição. Todas executadas em ferro, espelho e vidro, elas estabelecem conexões formais e conceituais com as gravuras. "Há uma articulação interna entre o enfrentamento exaustivo da chapa de metal das gravuras com os deslocamentos ópticos e os desvios insinuantes de suas esculturas. O metal, o vidro, os espelhos, a linha, a cor, a memória gráfica, as sobreposições, a instabilidade; tudo isso reverbera entre as gravuras, os desenhos e as esculturas", observa Osorio.
SERVIÇO
JOSÉ PEDRO CROFT: REFLEXOS, ENCLAVES, DESVIOS
Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)
De 24/9 a 7/11, de quarta a segunda (9h às 20h)
Entrada franca