Darel e suas fases

Exposição celebra centenário do artista pernambucano com 95 obras que percorrem sete décadas de criação

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Exposição apresenta 95 trabalhos do artista que trabalhou diferentes técnicas ao longo de sete décadas de produção em desenho, pintura, gravura, ilustração e videoarte

O Centro Cultural Correios apresenta uma ampla retrospectiva dedicada ao artista Darel Valença Lins (1924-2017), figura singular da arte brasileira que completa cem anos de nascimento. A exposição "Darel - 100 anos de um artista contemporâneo", com curadoria de Denise Mattar, reúne 95 trabalhos que atravessam sete décadas de produção artística em desenho, pintura, gravura, ilustração e videoarte.

Nascido em Palmares e radicado no Rio, Darel teve sua trajetória marcada pela experimentação técnica e pela sensualidade expressiva. Pioneiro da litografia colorida no Brasil, desenvolveu uma linguagem visual que o aproximou de nomes como Oswaldo Goeldi, Iberê Camargo e conquistou o reconhecimento de intelectuais como Clarice Lispector e Vinicius de Moraes. Sua excelência artística foi reconhecida com prêmios importantes, como o de "Viagem ao Estrangeiro" do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o de "Melhor Desenhista Nacional" na Bienal de São Paulo de 1963, onde ganhou uma sala especial na edição seguinte.

O percurso da exposição ér organizado de forma cronológica, iniciando pelas gravuras em preto e branco das séries "Topografias" e "Cidades Inventadas", produzidas nas décadas de 1950 e 1960. Estes trabalhos evidenciam o domínio técnico do artista e sua capacidade de criar universos visuais autônomos através da gravura. Gradualmente, a cor se incorpora à sua produção, enriquecendo a paleta expressiva e ampliando as possibilidades narrativas.

A década de 1970 marca uma inflexão radical em sua produção. Darel abandona temporariamente a gravura para explorar o pastel e o lápis de cera na série "Mulheres da Rua Concórdia" com obras que retratam cenas de um prostíbulo que marcou sua infância, transformando memórias pessoais em arte.

A produção posterior revela novas experimentações técnicas. No conjunto "Baixada Fluminense", Darel incorpora digigrafia, colagem e guache para construir narrativas visuais inventadas, expandindo seu repertório expressivo. Seus últimos trabalhos, realizados nos anos 2000, apresentam delicadas pinturas florais a óleo e uma surpreendente incursão na videoarte, que se tornou sua melhor companhia nos últimos anos de vida, quando vivia solitário em sua casa de 800 m² em São Conrado.

A exposição ganha programação especial neste sábado (16), às 16h, com a sessão única do documentário "Mais do que eu possa me reconhecer", de Allan Ribeiro, seguida de debate com o diretor. O filme, premiado na Mostra Tiradentes de 2015 com os troféus de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro e prêmio de público em diversos festivais pelo país, retrata a vida íntima do artista e sua relação com a videoarte como forma de expressão e conexão.

Para a curadora Denise Mattar, a mostra cumpre uma função reparadora. "Apesar de sua relevância histórica, Darel é hoje pouco conhecido do grande público. Sua trajetória reflete a condição de muitos gravadores brasileiros, que enfrentam a marginalização de uma técnica erroneamente considerada 'menor' pelo mercado de arte".

SERVIÇO

DAREL - 100 ANOS DE UM ARTISTA CONTEMPORÂNEO

Centro Cultural Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro)

Até 30/8, de terça a sábado (12h às 19h)

Entrada franca